segunda-feira, agosto 27, 2007

Prato Pronto

Por André Debevc

Dentro de todo pássaro voa uma libélula. Inseto devorado, prato pronto para fazer cócegas na barriga do pássaro e fazê-lo voar ainda mais alto.

sábado, agosto 18, 2007

Mais de Mil Segredos

Por André Debevc

Em um castelo no térreo, sem calabouços ou escadas, mora uma moça sem tranças com mais de mil segredos que atende secretamente por vossa palhaceza. Dela sempre quis se saber mais de mil coisas sem precisar fazer uma só pergunta. Até hoje só se sabe que dela não se pede beijo e nem coice se leva. E que privilegiado existe que conheça o cheiro de sua nuca. Mas só porque noite dessas de frio ela se distraiu entre uma piscada e outra de história que ela já sabia até de trás pra frente. É uma menina impertinente, dizem. Espoleta inqueita, admite que sofre o ônus da eterna indecisão, e aperta os olhos castanhos antes de seguir quase saltitante pra qualquer outro lado. A única certeza de que se tem notícia por aqui, grande reino cinza onde a moça habita, é que dela ainda há muito por saber. Desconfiam se ela teria sido uma menina que roubava livros, se perguntam se viveu cem anos de solidão ou se namorou James Lins. Morrem de vergonha em perguntar se teria ela achado seu mindinho, mas são doidos pra descobrir se passou por ritos na infância ou se é misteriosa assim porque guarda secretamente notícias de um seqüestro. A moça dos mais de mil segredos tem um quase muro de sorrisos e doce sotaque envolvendo seu reino secreto. Lá ela passeia livre, em família, dançando feito criança em boliches, com um coração imenso e quente que só quem vem láaaaa de um outro reino, província distante, pode ter. Mas grandes enigmas envolvem vossa palhaceza...Como se faz para que ela não represe seu beijo, ou me jogue a sua âncora de companhia em abraços? Qual será o segredo pro seu carinho? Existirá uma passagem invisível para doces amassos? Será que, mesmo quando dorme, tem as mãos frias? Será que ela faz bico quando sonha, ou fica de manha quando acorda sem hora pra se atrasar? A moça dos mais de mil segredos, vossa palhaceza: não gosta de pizza e gosta de verde. Mas será que um dia ela se distrai e se deixa gostar de mim?

quarta-feira, agosto 08, 2007

Enigma

Por André Debevc

Ela é um enigma. Mas se eu não a decifrar, ela também não me devora.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Nem todo final consegue ser feliz

Por André Debevc
“Melhor uma dor com fim do que uma agonia sem fim.” Não, não esta frase não é de Sêneca e nem de nenhum outro filósofo ou pensador zen pregando o desapego. É uma frase de minha bisavó. Ou pelo menos é a ela que minha mãe costuma atribuir o dito. A velha dona Mariquinha, casada com um dos homens mais metódicos da Araguari do século passado (diz a lenda que as pessoas acertavam o relógio pela hora em que meu bisavô saía do trabalho para almoçar em casa), tinha razão. Finais – ardentes, insossos, trágicos, felizes, previsíveis – quaisquer sejam eles, são sempre necessários.

Histórias abertas são feridas que nunca cicatrizam. Produzem gente que vaga por aí com bolsos cheios de pontos finais nunca colocados, pessoas que tentam andar para frente olhando para trás. Gente que manca da alma e sente sempre um gosto estranho quando engole seco. E pensando nessa gente, lembro de um livro, que li ainda adolescente, com um nome muito sugestivo, desses que deixa claro o quanto finais são importantes: “Todas as histórias de amor terminam mal”. Já concordei e discordei do titulo mil vezes. Hoje só sei que toda história PRECISA terminar. Seja ela de amor, seja de ódio – indiferença não, porque indiferença não presta pra nada, e é analfabeta de pai e mão pra falar bem a verdade.

E não sei se é a época do ano, cheia de finais de temporada na tv a cabo, ou se foi a minha amiga Marina (www.lebalmasque.blogspot.com) charlando com o assunto, mas sei que nestes dias, finais, começos e arquivos mortos emocionais pairam sobre a minha cabeça. Penso, peno, penso e lembro de finais que vivi e uns que vagam sem fecho por aí – cheios de coisa pra dizer que nunca serão ditas e cheios de silêncios por fazer que nunca serão feitos. Como eu gostaria de tê-los vivido...estaria menos fragmentário, eu acho.

Somos personagens eternamente em construção. Frutos de cada história, levemente alterados a cada final. A canalhice cometida com alguém que você amava, o amor que não soubemos corresponder, a paixão errada, a dor de ter sido trocado, a mágoa de ter sido deixado, a alegria vingativa (e sem nenhum porque) de deixar, o reencontro que não significou nada, enfim tudo modifica imperceptivelmente e para sempre quem somos de um jeito ou de outro.

Fins, afins, sem fins, ser-a-fim. Me ocorre agora como não querer que algo tenha acabado é completamente diferente de não querer que tenha tido um fim. Eu já quis que as poucas coisas que amei de verdade nessa vida nunca acabassem, mas acho que sempre soube – inundado de melancolia e borboletas nucleares no estômago - que todas precisavam, alguma hora, ter um fim. Mas nem todas tiveram esta sorte.