Por André Debevc
Conhecidos mais íntimos o tinham como um tipo mulherengo. Ele preferia dizer que era um fiel não praticante.
quinta-feira, novembro 26, 2009
quarta-feira, novembro 04, 2009
Melhor com que sem
Por André Debevc
Existe um ditado antigo que diz que tem certas coisas são mais fáceis de não começar do que de terminar. Essa é uma daquelas verdades absolutas das quais talvez eu nem tenha capacidade física ou mental de discordar. Deve estar falando das melhores coisas da vida de alguém. Todo mundo tem uma história, um amor, um trabalho, uma paixão proibida que foi assim: certamente muito mais fácil de começar do que de terminar.
Tenho uma teoria que diversos finais da mesma coisa acabam mesmo virando reticências. Sem um olhar pra trás, nem de saudade. Sem um segundo em silêncio no esbarrão, desses quase inevitáveis que a vida sempre dá, numa recordação em algum fragmento daquilo que – depois de tanto tempo fica ainda mais fácil de ver - foi mesmo mais fácil de começar.
E às vezes, muitas vezes, tudo começa do jeito mais despretencioso possível. Até porque o não, como adora dizer um amigo meu, já vem de casa. E de repente você, que naquele dia saiu de casa um pouco mal arrumado até, com o cabelo esquisito, a barba pra lá de que por fazer, acaba tendo uma surpresa dessas que te faz sorrir, e até querer se parabenizar, quando cruza com o próprio olhar no espelho retrovisor no caminho de casa.
É como se simplesmente PUMBA, do nada você tivesse ganho o dia, a vida, um novo ânimo só porque fez o que não faz todos os dias. Só porque, pra variar, você venceu todos aqueles milhares de nãos que vive carregando no bolso desde aquela festa americana, em que você levou refrigerante e comeu skinny, querendo dançar com a menina mais bonita, mas simplesmente não teve nem a coragem de arriscar e de repente ganhar um sim.
Um dos meus velhos filmes favoritos, Sociedade dos Poetas Mortos, fala disso. Mostra essa alegria adolescente e contagiante de um simples sim. A vida nos cerca de nãos por todo lado. Com ao anos, vamos nos conformando, saindo de casa com cada vez mais nãos no bolso, esquecendo que sim, existem mesmo coisas que são mais fáceis de não começar do que de acabar. Mas que são essas coisas, às vezes tão difíceis de terminar, que nos fazem mais fortes. Que nos dão nossos sorrisos mais canalhas e cafajestes – no sentido mais inocente e moleque (talvez a palavra fosse mesmo moleque) que elas podem ter.
Então se aquele emprego, aquele amor, aquele esporte, aquela aula, aquela conversa, parece ser uma dessas coisas, muito mais fáceis de nem começar, recuse essa primeira impressão. Vá em frente. Que seja muito mais difícil de acabar, de esquecer, de não parar de lembrar, de ter saudade, de te fazer sorrir sozinho – só com os olhos, que seja – que acabe sendo muito mais complicado de seguir em frente sem olhar pra trás. Aquilo que é mais difícil de terminar sempre é aquilo sem a qual a sua vida não podia ter acontecido, sido e vivido sem.
Existe um ditado antigo que diz que tem certas coisas são mais fáceis de não começar do que de terminar. Essa é uma daquelas verdades absolutas das quais talvez eu nem tenha capacidade física ou mental de discordar. Deve estar falando das melhores coisas da vida de alguém. Todo mundo tem uma história, um amor, um trabalho, uma paixão proibida que foi assim: certamente muito mais fácil de começar do que de terminar.
Tenho uma teoria que diversos finais da mesma coisa acabam mesmo virando reticências. Sem um olhar pra trás, nem de saudade. Sem um segundo em silêncio no esbarrão, desses quase inevitáveis que a vida sempre dá, numa recordação em algum fragmento daquilo que – depois de tanto tempo fica ainda mais fácil de ver - foi mesmo mais fácil de começar.
E às vezes, muitas vezes, tudo começa do jeito mais despretencioso possível. Até porque o não, como adora dizer um amigo meu, já vem de casa. E de repente você, que naquele dia saiu de casa um pouco mal arrumado até, com o cabelo esquisito, a barba pra lá de que por fazer, acaba tendo uma surpresa dessas que te faz sorrir, e até querer se parabenizar, quando cruza com o próprio olhar no espelho retrovisor no caminho de casa.
É como se simplesmente PUMBA, do nada você tivesse ganho o dia, a vida, um novo ânimo só porque fez o que não faz todos os dias. Só porque, pra variar, você venceu todos aqueles milhares de nãos que vive carregando no bolso desde aquela festa americana, em que você levou refrigerante e comeu skinny, querendo dançar com a menina mais bonita, mas simplesmente não teve nem a coragem de arriscar e de repente ganhar um sim.
Um dos meus velhos filmes favoritos, Sociedade dos Poetas Mortos, fala disso. Mostra essa alegria adolescente e contagiante de um simples sim. A vida nos cerca de nãos por todo lado. Com ao anos, vamos nos conformando, saindo de casa com cada vez mais nãos no bolso, esquecendo que sim, existem mesmo coisas que são mais fáceis de não começar do que de acabar. Mas que são essas coisas, às vezes tão difíceis de terminar, que nos fazem mais fortes. Que nos dão nossos sorrisos mais canalhas e cafajestes – no sentido mais inocente e moleque (talvez a palavra fosse mesmo moleque) que elas podem ter.
Então se aquele emprego, aquele amor, aquele esporte, aquela aula, aquela conversa, parece ser uma dessas coisas, muito mais fáceis de nem começar, recuse essa primeira impressão. Vá em frente. Que seja muito mais difícil de acabar, de esquecer, de não parar de lembrar, de ter saudade, de te fazer sorrir sozinho – só com os olhos, que seja – que acabe sendo muito mais complicado de seguir em frente sem olhar pra trás. Aquilo que é mais difícil de terminar sempre é aquilo sem a qual a sua vida não podia ter acontecido, sido e vivido sem.
quinta-feira, outubro 22, 2009
O Pequeno Resumo
Aproveito a inauguração, na Oca do Ibirapuera (em São Paulo até dia 20 de dezembro) da belíssima Exposição baseada no livro favorito de 10 entre 10 candidatas à Miss, pra trazer uma frase absolutamente pertinente sobre o amor.
"Amar não é olhar um pro outro. É olharem os dois na mesma direção"
Antoine Saint-Exupéry (autor de "O Pequeno Príncipe)
Boa semana pra vocês.
"Amar não é olhar um pro outro. É olharem os dois na mesma direção"
Antoine Saint-Exupéry (autor de "O Pequeno Príncipe)
Boa semana pra vocês.
sexta-feira, outubro 02, 2009
Sonhos Perdidos
Por André Debevc
Ando precisando me lembrar mais dos meus sonhos. Daquilo que eu queria quando era criança, de tudo que pensei e queria estar vivendo a essa altura desse campeonato disputadíssimo que é estar vivo. Será que eu queria ter um labrador chocolate? Ser escritor? Ser astronauta? Ou será que eu só pensava mesmo em ter uma Ferrari vermelha tipo a do Magnum? A essa altura será que já era pra ter filhos? Morar numa casa com piscina? Mas mais importante que isso...em todas as minhas mudanças de país, de cidade, de casa, de emprego e até de namorada...onde foi que foram parar meus sonhos? Estarão naquela pasta azul-claro junto com a minha certidão de nascimento original? Será que ficaram na casa da minha mãe junto com aquela caixa com fotos das minhas viagens, amigos e histórias do passado? Onde andam meus sonhos? Perdidos numa peça de bagagem que, sem que eu percebesse, extraviou? Ou teriam sido rasgados por engano juntos com uma correspondência me oferecendo mil vantagens num cartão de crédito que nunca fiz? Não sei. O pior é que não faço a menor idéia. O moleque de franja e cabelos castanhos lisos, que fui um dia, me olharia decepcionado se me encontrasse agora. Não sei onde estão meus velhos sonhos, mas não me esqueci de você, garoto. Eu vou achar tudo que me movia, prometo. Vou achar tudo aquilo que você (eu) queria que eu fosse. Vou viver tudo aquilo que a gente queria pra nós. Não posso decepcionar você. Você, hoje e sempre, é tudo que tenho. É a você a quem devo satisfações. Olhando a velha foto em preto-e-branco eu me lembro disso. Olhando a velha foto, eu não sei nem como faço pra pedir desculpas, por ter perdido tudo aquilo que você, moleque feliz e sorridente que era a alegria da casa, sonhava. Mas eu prometo que vou fazer você orgulhoso de mim. Prometo e vou cumprir. Sei que você não espera, e não vai aceitar, nada menos que isso.
Ando precisando me lembrar mais dos meus sonhos. Daquilo que eu queria quando era criança, de tudo que pensei e queria estar vivendo a essa altura desse campeonato disputadíssimo que é estar vivo. Será que eu queria ter um labrador chocolate? Ser escritor? Ser astronauta? Ou será que eu só pensava mesmo em ter uma Ferrari vermelha tipo a do Magnum? A essa altura será que já era pra ter filhos? Morar numa casa com piscina? Mas mais importante que isso...em todas as minhas mudanças de país, de cidade, de casa, de emprego e até de namorada...onde foi que foram parar meus sonhos? Estarão naquela pasta azul-claro junto com a minha certidão de nascimento original? Será que ficaram na casa da minha mãe junto com aquela caixa com fotos das minhas viagens, amigos e histórias do passado? Onde andam meus sonhos? Perdidos numa peça de bagagem que, sem que eu percebesse, extraviou? Ou teriam sido rasgados por engano juntos com uma correspondência me oferecendo mil vantagens num cartão de crédito que nunca fiz? Não sei. O pior é que não faço a menor idéia. O moleque de franja e cabelos castanhos lisos, que fui um dia, me olharia decepcionado se me encontrasse agora. Não sei onde estão meus velhos sonhos, mas não me esqueci de você, garoto. Eu vou achar tudo que me movia, prometo. Vou achar tudo aquilo que você (eu) queria que eu fosse. Vou viver tudo aquilo que a gente queria pra nós. Não posso decepcionar você. Você, hoje e sempre, é tudo que tenho. É a você a quem devo satisfações. Olhando a velha foto em preto-e-branco eu me lembro disso. Olhando a velha foto, eu não sei nem como faço pra pedir desculpas, por ter perdido tudo aquilo que você, moleque feliz e sorridente que era a alegria da casa, sonhava. Mas eu prometo que vou fazer você orgulhoso de mim. Prometo e vou cumprir. Sei que você não espera, e não vai aceitar, nada menos que isso.
quinta-feira, outubro 01, 2009
Mais um canal
Caros leitores...
caso vocês tenham interesse, também estou no twitter. Espero vocês lá.
www.twitter.com/guardanapkins
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Segredos
segunda-feira, setembro 28, 2009
Dificuldade (em até 150 caracteres)
Por André Debevc
Tenho que ter muito sangue frio pra resistir à sua pele branca quente e um Shiraz à temperatura ambiente. Na contagem até dez é difícil chegar a três.
Tenho que ter muito sangue frio pra resistir à sua pele branca quente e um Shiraz à temperatura ambiente. Na contagem até dez é difícil chegar a três.
segunda-feira, agosto 03, 2009
Viuvez ressentida
Por André Debevc
Sou um viúvo do falso ressentimento.
Todos meus amores mortos,
aniquilados sem remorso nem lamento
desfilam pelo asfalto cínico
que escorre quieto.
Sou um viúvo do falso ressentimento.
Todos meus amores mortos,
aniquilados sem remorso nem lamento
desfilam pelo asfalto cínico
que escorre quieto.
quarta-feira, julho 29, 2009
Marketing Certeiro
Por André Debevc
Que faço para fidelizar você ao meu beijo?
Que estratégias de marketing garantem
que você troque para me consumir
e seja atendida nos seus desejos mais primários e urgentes?
Devo entrar em promoção para te conseguir por mais um tempo?
Posso agregar valor à premissa básica de ser melhor em quase tudo?
Será que minha fórmula lava seus sonhos mais brancos?
E minha boca? Deixa seu hálito fresco por mais tempo?
Meu cheiro consegue não sair da sua cabeça na primeira lavagem?
Que mais coisas temos em comum para fazer você voltar sempre?
Até onde consigo te desviar do caminho para sentir meus outdoors?
Preciso conquistar uma consumidora exigente
que nem desconfia das vantagens que vai conseguir
no meu complexo programa de milhagem e recompensas.
Que faço para fidelizar você ao meu beijo?
Que estratégias de marketing garantem
que você troque para me consumir
e seja atendida nos seus desejos mais primários e urgentes?
Devo entrar em promoção para te conseguir por mais um tempo?
Posso agregar valor à premissa básica de ser melhor em quase tudo?
Será que minha fórmula lava seus sonhos mais brancos?
E minha boca? Deixa seu hálito fresco por mais tempo?
Meu cheiro consegue não sair da sua cabeça na primeira lavagem?
Que mais coisas temos em comum para fazer você voltar sempre?
Até onde consigo te desviar do caminho para sentir meus outdoors?
Preciso conquistar uma consumidora exigente
que nem desconfia das vantagens que vai conseguir
no meu complexo programa de milhagem e recompensas.
quarta-feira, julho 22, 2009
Constatação
Por André Debevc
Quando um ciclo se encerra,
a primeira reação (natural)
é olhar para trás e visitá-lo, do início ao fim,
ficando com ainda mais saudade
do que não volta mais.
Nunca mais.
Quando um ciclo se encerra,
a primeira reação (natural)
é olhar para trás e visitá-lo, do início ao fim,
ficando com ainda mais saudade
do que não volta mais.
Nunca mais.
Cegueira Seletiva
Por André Debevc
preciso escrever para dizer que essa noite é inútil,
pra dizer que a lua não some
nem pisca fingindo que me vê no trânsito
a caminho de casa.
acre doce beijo perfeito,
a névoa soluça a madrugada pouco londrina
e nada ocupa a cegueira de só sentir o seu cheiro.
preciso escrever para dizer que essa noite é inútil,
pra dizer que a lua não some
nem pisca fingindo que me vê no trânsito
a caminho de casa.
acre doce beijo perfeito,
a névoa soluça a madrugada pouco londrina
e nada ocupa a cegueira de só sentir o seu cheiro.
terça-feira, julho 21, 2009
Pressa sempre
Por André Debevc
Ela diz que tenho pressa em levá-la pra cama.
Vive reclamando que minhas mãos voam
descolando tecidos, elásticos e zíperes inconvenientes.
Mal sabe ela o que digo quando estou a ranger os dentes.
Tenho uma prece silenciosa
para que possamos resolver tudo isso do meu jeito,
essa missão interminável de macho predador,
que é a coleta de presas falsamente relutantes,
entorpecidas até o talo por orgásmos inebriantes
paridos nas pontas dos dedos e língua.
Talvez ela seja assim só mais um troféu na estante,
talvez eu lembre, silenciosamente, dela na roda de cúmplices
como aquela que vivia reclamando do meu jeito.
Ela sabe como venero um bom peito,
mas os eláticos de sua calcinha
não tinham que marcar a alma tanto assim.
Ela diz que tenho pressa em levá-la pra cama.
Vive reclamando que minhas mãos voam
descolando tecidos, elásticos e zíperes inconvenientes.
Mal sabe ela o que digo quando estou a ranger os dentes.
Tenho uma prece silenciosa
para que possamos resolver tudo isso do meu jeito,
essa missão interminável de macho predador,
que é a coleta de presas falsamente relutantes,
entorpecidas até o talo por orgásmos inebriantes
paridos nas pontas dos dedos e língua.
Talvez ela seja assim só mais um troféu na estante,
talvez eu lembre, silenciosamente, dela na roda de cúmplices
como aquela que vivia reclamando do meu jeito.
Ela sabe como venero um bom peito,
mas os eláticos de sua calcinha
não tinham que marcar a alma tanto assim.
sexta-feira, julho 17, 2009
Coração em paz
Por André Debevc
Quero sua boca rosa
saindo em camera lenta na penumbra
de um beijo de batom apagado,
quero o seu cheiro reconhecido até no caminho bêbado de casa.
Quero o rosa da sua boca questionando minha língua,
aceitando minhas mãos decididas
às vezes queitas e ancoradas à sua cintura.
Quero pôr-do-sol,
sorvete e japonês,
flores quase sempre talvez,
e a sensação de realização que há tanto me abandonou.
Quero ser meta, quero ser seta,
quero sempre uma boca semi-aberta
que intui mais que um beijo,
que instiga desejo e replays
e sorri feliz por saber um coração em paz.
Quero sua boca rosa
saindo em camera lenta na penumbra
de um beijo de batom apagado,
quero o seu cheiro reconhecido até no caminho bêbado de casa.
Quero o rosa da sua boca questionando minha língua,
aceitando minhas mãos decididas
às vezes queitas e ancoradas à sua cintura.
Quero pôr-do-sol,
sorvete e japonês,
flores quase sempre talvez,
e a sensação de realização que há tanto me abandonou.
Quero ser meta, quero ser seta,
quero sempre uma boca semi-aberta
que intui mais que um beijo,
que instiga desejo e replays
e sorri feliz por saber um coração em paz.
quinta-feira, julho 16, 2009
fino trato
Por André Debevc
Que mel é esse que brota em minha boca
e faz feitiços com as moças que dele provam?
Sei lá eu que doce viciante
rescende em meus lábios e língua solta.
Entorpecente de fino trato,
não sujeito à fiscalização federal,
corra pelas esquinas em boatos
para que minhas conquistas
sejam simples lendas
tais como inesquecíveis atos.
Que mel é esse que brota em minha boca
e faz feitiços com as moças que dele provam?
Sei lá eu que doce viciante
rescende em meus lábios e língua solta.
Entorpecente de fino trato,
não sujeito à fiscalização federal,
corra pelas esquinas em boatos
para que minhas conquistas
sejam simples lendas
tais como inesquecíveis atos.
(sem título)
Por André Debevc
Sua indecisão pontuava sua resistência,
indecisão medrosa de uma cumplicidade branda.
E vai, me beija logo,
antes que sua boca consiga fingir arquivar o desejo
que te move agora.
Me lê, me beija, deixa ser
pois agora sou simples demais, um impulso primário
que adora te dominar.
Sua indecisão pontuava sua resistência,
indecisão medrosa de uma cumplicidade branda.
E vai, me beija logo,
antes que sua boca consiga fingir arquivar o desejo
que te move agora.
Me lê, me beija, deixa ser
pois agora sou simples demais, um impulso primário
que adora te dominar.
quinta-feira, julho 09, 2009
Apelos milenares
Por André Debevc
Agora,
vamos às ilusões coletivas,
às momentâneas faltas de caráter,
ao mergulho da saudade precoce.
Vamos aos braços das lágrimas doces,
nos rendamos ao apelo mais milenar de nossos instintos animais.
Falesmo de palavras que calam e de gestos que consentem.
Suspendamos, assim nesse ar onírico,
as mais maliciosas ilusões
no piscar mais vacilativo do segundo de cansaço.
Paremos de beber antes mesmo de começar,
renunciemos agressões gratuitas
e guardemos para nós alguma conclusão inútil.
Já é tempo de morder o mundo com esses caninos afiados,
já é hora de passar-lhe a língua no lábio superior.
Os dias não vêm pré-fabricados
e ninguém sabe sua cota de alegrias nem de dor.
Agora,
vamos às ilusões coletivas,
às momentâneas faltas de caráter,
ao mergulho da saudade precoce.
Vamos aos braços das lágrimas doces,
nos rendamos ao apelo mais milenar de nossos instintos animais.
Falesmo de palavras que calam e de gestos que consentem.
Suspendamos, assim nesse ar onírico,
as mais maliciosas ilusões
no piscar mais vacilativo do segundo de cansaço.
Paremos de beber antes mesmo de começar,
renunciemos agressões gratuitas
e guardemos para nós alguma conclusão inútil.
Já é tempo de morder o mundo com esses caninos afiados,
já é hora de passar-lhe a língua no lábio superior.
Os dias não vêm pré-fabricados
e ninguém sabe sua cota de alegrias nem de dor.
terça-feira, julho 07, 2009
Jantar pra quê?
Por André Debevc
Com o buraco imenso que tinha no peito, a fome se acovadou e sumiu. Vai ver a comida sabia que nunca chegaria no estômago.
Com o buraco imenso que tinha no peito, a fome se acovadou e sumiu. Vai ver a comida sabia que nunca chegaria no estômago.
segunda-feira, julho 06, 2009
Dúvida constante
Por André Debevc
Quando te beijo de novo?
Faz tempo que meus sentidos
não concebem o seu gosto,
e muito a contra-gosto acabo brincando comigo mesmo,
invento desculpas sem sentido nem rima
sem ficar paralisado e atento
algenado pelos seus olhos acinzentados.
Então na escalada das horas vasculho perfumes,
me embriago em saliva, mas nada me salva...
Noites insossas
não rendem lábios sempre doces,
e a cumplicidade de nossas bocas
até finge...
mas não aparece em qualquer esquina.
Quando te beijo de novo?
Faz tempo que meus sentidos
não concebem o seu gosto,
e muito a contra-gosto acabo brincando comigo mesmo,
invento desculpas sem sentido nem rima
sem ficar paralisado e atento
algenado pelos seus olhos acinzentados.
Então na escalada das horas vasculho perfumes,
me embriago em saliva, mas nada me salva...
Noites insossas
não rendem lábios sempre doces,
e a cumplicidade de nossas bocas
até finge...
mas não aparece em qualquer esquina.
sexta-feira, julho 03, 2009
resolução escrita
Por André Debevc
Sua nuca é a mais bonita que já vi,
embora isso não conte muito a seu favor
se eu não souber o seu nome.
Algumas coisa só sei resolver escrevendo,
já que minha boca quer saber a sua em braile
e deixar tudo mais
virar uma boa história para a gente contar.
Sua nuca é a mais bonita que já vi,
embora isso não conte muito a seu favor
se eu não souber o seu nome.
Algumas coisa só sei resolver escrevendo,
já que minha boca quer saber a sua em braile
e deixar tudo mais
virar uma boa história para a gente contar.
Regime de cotas
Por André Debevc
Vou aumentar minha cota de deslizes.
Ando muito inocente ultimamente
e quase esqueci aquele meu sorriso safado.
Não quero é deixar de lado
minha poesia pouco contundente.
Até acho graça nas minhas cicatrizes,
e preciso de histórias para encompridar.
Vou aumentar minha cota de deslizes.
Ando muito inocente ultimamente
e quase esqueci aquele meu sorriso safado.
Não quero é deixar de lado
minha poesia pouco contundente.
Até acho graça nas minhas cicatrizes,
e preciso de histórias para encompridar.
Descoberta Solo
Por André Debevc
Nem só de palavras bonitas
e slogans incríveis vive a minha boca.
Além de meus dentes afiados
trago uma língua de seda parecendo tecido molhado
que se estica até a ponta do meu nariz.
Desejado objeto,
quase sempre agindo, quase nunca quieto,
minha boca esconde delírios além de segredos e mentiras.
Para você, tenho uns beijos esboçados
com gosto apurado, que garante replay.
Mas até aí, nem eu sei,
já que sua boca ignora cobiçada ação
restrita às moças que me encantam
e tentam de toda maneira se infiltrar em meu coração.
Nem só de palavras bonitas vive a minha boca.
Mas isso você pode descobrir sozinha.
Nem só de palavras bonitas
e slogans incríveis vive a minha boca.
Além de meus dentes afiados
trago uma língua de seda parecendo tecido molhado
que se estica até a ponta do meu nariz.
Desejado objeto,
quase sempre agindo, quase nunca quieto,
minha boca esconde delírios além de segredos e mentiras.
Para você, tenho uns beijos esboçados
com gosto apurado, que garante replay.
Mas até aí, nem eu sei,
já que sua boca ignora cobiçada ação
restrita às moças que me encantam
e tentam de toda maneira se infiltrar em meu coração.
Nem só de palavras bonitas vive a minha boca.
Mas isso você pode descobrir sozinha.
quinta-feira, julho 02, 2009
diagnóstico
Por André Debevc
Premeditação e inconsequência andam juntas. Ninguém nunca teve um sorriso safado e sem mostrar os dentes no rosto, sem mil idéias deliciosas na cabeça.
Premeditação e inconsequência andam juntas. Ninguém nunca teve um sorriso safado e sem mostrar os dentes no rosto, sem mil idéias deliciosas na cabeça.
quarta-feira, julho 01, 2009
dia de inferno
Por André Debevc
uma angústia gigante me estacionou latente num pedaço que vai, da garganta até quase a parte debaixo do coração. e num abrir de olhos, como tantos outros - num dia final de inferno - foi como se todos os beijos eternamente adiados, todos os empregos e peitos nunca tidos, todas as viagens e promessas nunca feitas, absolutamente toda a liberdade e as ilusões nati-mortas resolvessem ficar engarrafadas em mim, baixando a luz da minha alma por mais tempo que qualquer outra tristeza sem cúmplice. em dias assim, de ponteiros lentos e piadas órfãs de sorrisos, tudo que eu queria é poder correr, correr, correr. até me encontrar, cheio de planos e soluções, e com aquele sorriso de alma tão profundo que me faz até ter buracos felizes no rosto. hoje acho que não vai dar...
uma angústia gigante me estacionou latente num pedaço que vai, da garganta até quase a parte debaixo do coração. e num abrir de olhos, como tantos outros - num dia final de inferno - foi como se todos os beijos eternamente adiados, todos os empregos e peitos nunca tidos, todas as viagens e promessas nunca feitas, absolutamente toda a liberdade e as ilusões nati-mortas resolvessem ficar engarrafadas em mim, baixando a luz da minha alma por mais tempo que qualquer outra tristeza sem cúmplice. em dias assim, de ponteiros lentos e piadas órfãs de sorrisos, tudo que eu queria é poder correr, correr, correr. até me encontrar, cheio de planos e soluções, e com aquele sorriso de alma tão profundo que me faz até ter buracos felizes no rosto. hoje acho que não vai dar...
quase quatro
Por André Debevc
descobria as coxas dela com as costas do indicador mais esperto. depois de quase 4cm de penugem arrepiada, não sabiam nem mesmo seus próprios nomes.
descobria as coxas dela com as costas do indicador mais esperto. depois de quase 4cm de penugem arrepiada, não sabiam nem mesmo seus próprios nomes.
quinta-feira, junho 25, 2009
Chuva de quinta
Por André Debevc
a massa polar que chegou lá do sul
me faz querer atracar felino e letárgico no sofá,
a chuva caindo burocrática e constante lá fora,
e dentro de casa só a luz azul da tv no jogo do Brasil
desenhando sombras cúmplices nas paredes.
cenário perfeito, granulado em preto-e-branco,
para ter uma gata branca preguiçosa e fotofóbica no colo,
ronronando com um quase sorriso nos lábios
todo o calorzinho cheiroso que ela guarda para dias assim.
na mesa de centro, a coca-cola perdendo o gás,
sem pressa, enquanto na casa toda só o copo sua
e as almas se enroscam querendo que não exista amanhã.
a massa polar que chegou lá do sul
me faz querer atracar felino e letárgico no sofá,
a chuva caindo burocrática e constante lá fora,
e dentro de casa só a luz azul da tv no jogo do Brasil
desenhando sombras cúmplices nas paredes.
cenário perfeito, granulado em preto-e-branco,
para ter uma gata branca preguiçosa e fotofóbica no colo,
ronronando com um quase sorriso nos lábios
todo o calorzinho cheiroso que ela guarda para dias assim.
na mesa de centro, a coca-cola perdendo o gás,
sem pressa, enquanto na casa toda só o copo sua
e as almas se enroscam querendo que não exista amanhã.
segunda-feira, junho 15, 2009
na folha em branco
Por Andre Debevc
brinque com a folha em branco com carinho.
nela cabem mil aventuras.
ali, cercada de nada por todos os lados,
você pode ser quem quiser,
fazer de tudo um muito,
até mesmo aquilo que nunca teve nem coragem
de falar alto, assim aos quarto ventos.
você pode beijar e ser beijada,
pode despir ou já estar despida,
pode qualquer coisa, ter um segredo ou
até mesmo ser lambida,
num curioso banho de gata bípede.
…da folha em branco, ninguém escapa, todos ali podem ser mil histórias….
então escreva a sua, vale tudo.
desenho, verso, interjeição e,
depois do espásmo,
o palavrão.
…ah sim, e espere encontrar sorrisos também.
nem que seja assim, sorrindo só com os olhos,
as coxas mornas se apertando de ansiedade.
mas não esqueça, quando guardar a folha em branco,
que seja com um beijo longo do lado mais quente do peito.
juntinho da pele, que é pra toda aventura que tiver guardada ali
ficar paradinha, imobilizada pelo seu cheiro.
brinque com a folha em branco com carinho.
nela cabem mil aventuras.
ali, cercada de nada por todos os lados,
você pode ser quem quiser,
fazer de tudo um muito,
até mesmo aquilo que nunca teve nem coragem
de falar alto, assim aos quarto ventos.
você pode beijar e ser beijada,
pode despir ou já estar despida,
pode qualquer coisa, ter um segredo ou
até mesmo ser lambida,
num curioso banho de gata bípede.
…da folha em branco, ninguém escapa, todos ali podem ser mil histórias….
então escreva a sua, vale tudo.
desenho, verso, interjeição e,
depois do espásmo,
o palavrão.
…ah sim, e espere encontrar sorrisos também.
nem que seja assim, sorrindo só com os olhos,
as coxas mornas se apertando de ansiedade.
mas não esqueça, quando guardar a folha em branco,
que seja com um beijo longo do lado mais quente do peito.
juntinho da pele, que é pra toda aventura que tiver guardada ali
ficar paradinha, imobilizada pelo seu cheiro.
quarta-feira, maio 06, 2009
Revendo uma velha amada
Por André Debevc
Peço desculpas pela ausência, a culpa não é de uma emergência nem nada. É que tive que cumprir um compromisso dos mais penosos: a dura e árdua tarefa de visitar uma velha amada. O peito acelerado no avião e a tensão paquidérmica, quase obrigatória, daquela ansiedade espessa de rever um amor de tantas histórias e risadas.
Tivemos nossos altos e baixos, confesso (e amigos não me deixam mentir). Mas agora, depois de tanto tempo, penso que o fim não precisava ter sido como foi. Eu não precisava ter ido embora daquele jeito. A mala, cuia e alma pagando excesso de bagagem num aeroporto de segunda categoria. Como se tivesse fugindo de alguma coisa, fingindo pra mim mesmo que não estava fugindo dela. Eu mal me despedi. Cretino. Nem um derradeiro beijo de adeus, nem um afago prometendo guardá-la no meu peito pra sempre.
Restaram fotos, lembranças, cheiros e sons que não esquecerei nem em mil encarnações, talvez ela goste de saber disso, sei lá. Mas também sobraram silêncios e notícias eternamente incompletas de como ela andava. Ouvi de tudo, e não soube exatamente de nada. Mas pra mim sempre vai ficar a imagem da minha velha amada, no auge da sua forma. Sem as marcas inapagáveis do tempo e de relações erradas. Toda em pézinha, como ninguém nunca mais verá. Tínhamos uma intimidade de noites a sós invejada por amigos e conhecidos que nos viram juntos.
Indo ao seu encontro, devo admitir que foi um erro não vê-la por tanto tempo. A gente tinha uma história, tinha uma coisa especial um pelo outro, eu sei. Só de vê-la se aproximando, com aquele jeito dela de achar que é única, já fico eufórico. Preciso me conter. Se eu suasse nas mãos, encharcaria meu passaporte agora. Desse jeito vou acabar me entregando. Manhattan, te amo.
Tivemos nossos altos e baixos, confesso (e amigos não me deixam mentir). Mas agora, depois de tanto tempo, penso que o fim não precisava ter sido como foi. Eu não precisava ter ido embora daquele jeito. A mala, cuia e alma pagando excesso de bagagem num aeroporto de segunda categoria. Como se tivesse fugindo de alguma coisa, fingindo pra mim mesmo que não estava fugindo dela. Eu mal me despedi. Cretino. Nem um derradeiro beijo de adeus, nem um afago prometendo guardá-la no meu peito pra sempre.
Restaram fotos, lembranças, cheiros e sons que não esquecerei nem em mil encarnações, talvez ela goste de saber disso, sei lá. Mas também sobraram silêncios e notícias eternamente incompletas de como ela andava. Ouvi de tudo, e não soube exatamente de nada. Mas pra mim sempre vai ficar a imagem da minha velha amada, no auge da sua forma. Sem as marcas inapagáveis do tempo e de relações erradas. Toda em pézinha, como ninguém nunca mais verá. Tínhamos uma intimidade de noites a sós invejada por amigos e conhecidos que nos viram juntos.
Indo ao seu encontro, devo admitir que foi um erro não vê-la por tanto tempo. A gente tinha uma história, tinha uma coisa especial um pelo outro, eu sei. Só de vê-la se aproximando, com aquele jeito dela de achar que é única, já fico eufórico. Preciso me conter. Se eu suasse nas mãos, encharcaria meu passaporte agora. Desse jeito vou acabar me entregando. Manhattan, te amo.
Em São Paulo (I)
Por André Debevc
Ando tranquilo. Sem lugares de onde preciso fugir, sem mulheres onde preciso chegar. O peito devidamente ocupado e uma casa com o cheiro dela, que amo, pra onde eu posso voltar todos os dias. Até de carro troquei, pra poder levar a vida mais devagar, enquanto os finais de tarde bonitos de outono voltam silenciosos aos céus polarizados de São Paulo. Da cobertura do casarão, onde troco meus dias e pensamentos por dinheiro, vejo o sol fugindo pra de trás de Osasco enquanto a lua sorri, desembarcando em Congonhas e atravessando Moema. Na vida, só mesmo o trabalho anda insano, num engarrafamento de projetos, fundindo idéias, atropelando madrugadas na frente do powerpoint. Mas é São Paulo, o que mais eu podia esperar? Fora o trânsito e a falta de praia, confesso que gosto daqui. Não é sempre assim não. É só porque por quase a metade do milésimo dia seguido, acordei tranquilo.
sexta-feira, março 20, 2009
A eternidade começa aos nove minutos
Por André Debevc
Aproximadamente nove minutos depois de fechar os olhos, ela dá um suspiro alto e profundo, mergulhando fundo no sono da noite onde ela se aninha. Dormindo, ela não sabe disso. Nem disso, nem do quanto tempo passo imóvel, com um leve sorriso pendurado no rosto, praticando o meu adorado esporte de vê-la dormir, enquanto nossos futuros avançam de mãos dadas pra cada vez mais longe. Passo a mão no seu cabelo - tantas noites ainda molhado do banho - e sinto sua pele cada vez mais quente enquanto toda a energia inqueita que ela é repousa sem abrir a boca. Por causa dela, faz tempo que não preciso lembrar de nada velho para aquecer meu peito. Faço mil musiquinhas e jingles só nossos, pra animar a nossa vida e rotina corrida. Por causa dessa moça, com três tatuagens e unhas pintadas de vermelho, vejo crianças na rua e fico pensando em como serão os nossos filhos. Se terão os pés com tons de cor-de-rosa, ou quase fecharão os olhos quando gargalharem sem fazer barulho. Se darão esse suspiro adoravelmente fundo minutos depois de dormir, ou se me trarão desenhos e invenções criativos, feitos de coisas que sempre tivemos em casa. Agora já tem 12 minutos que ela fechou os olhos e dormiu. O segundo suspiro fundo – mais raso que o anterior, é verdade – vem aí. E esse eu também não posso perder. Até logo.
Aproximadamente nove minutos depois de fechar os olhos, ela dá um suspiro alto e profundo, mergulhando fundo no sono da noite onde ela se aninha. Dormindo, ela não sabe disso. Nem disso, nem do quanto tempo passo imóvel, com um leve sorriso pendurado no rosto, praticando o meu adorado esporte de vê-la dormir, enquanto nossos futuros avançam de mãos dadas pra cada vez mais longe. Passo a mão no seu cabelo - tantas noites ainda molhado do banho - e sinto sua pele cada vez mais quente enquanto toda a energia inqueita que ela é repousa sem abrir a boca. Por causa dela, faz tempo que não preciso lembrar de nada velho para aquecer meu peito. Faço mil musiquinhas e jingles só nossos, pra animar a nossa vida e rotina corrida. Por causa dessa moça, com três tatuagens e unhas pintadas de vermelho, vejo crianças na rua e fico pensando em como serão os nossos filhos. Se terão os pés com tons de cor-de-rosa, ou quase fecharão os olhos quando gargalharem sem fazer barulho. Se darão esse suspiro adoravelmente fundo minutos depois de dormir, ou se me trarão desenhos e invenções criativos, feitos de coisas que sempre tivemos em casa. Agora já tem 12 minutos que ela fechou os olhos e dormiu. O segundo suspiro fundo – mais raso que o anterior, é verdade – vem aí. E esse eu também não posso perder. Até logo.
sexta-feira, fevereiro 20, 2009
Conversa com sentido
Por André Debevc
- Me promete uma coisa, Shirley?
- Que foi, Flecha?
- Promete?
- Prometo, Flecha, o que foi?
- Promete que nunca vai me esquecer?
(silêncio)
- Mas que conversa sem sentido é essa agora, meu amor? A gente vai ficar junto pra sempre...
- Não, Shirley. Já ouvi que ia ser pra sempre e o pra sempre acabou. Foi pro saco. Só me promete que, haja o que houver, mesmo que a vida nos separe e você vá pra uma outra dimensão, que você vai sempre lembrar de mim. Que mesmo que a gente nunca mais se veja, vai ter sempre um cantinho no seu peito pro que vivemos...
- Ai, Flecha...que conversa mais triste...pára...a gente nunca vai se separar...
- Pára não, Shirley. Promete, vai.
- Juro, Flecha. Juro.
- Não jura não. Promete. Prefiro.
- Tá bom, prometo. Mas vem cá pra eu te dar um beijo, vem.
(smack)
- Agora me dá uma coçadinha aqui, Flecha?
- Aqui aonde, Shirley? Na virilha?
- Isso, Flecha. Aí. Vou te amar pra sempre!
- Não promete o que você não pode cumprir, Shirley...não promete o que você não pode cumprir.
- Ai...você é foda, sabia? Às vezes me desanima!
- Por que? Pode acontecer, Shirley, pode acontecer...
- Se você continuar com esse papo, vai acontecer MESMO!
- Não disse, Shirley? Eu não disse?
(os nomes dos personagens são sim uma homenagem aos personagens de Luís Fernando Veríssimo - um dos meus grandes heróis da literatura)
- Me promete uma coisa, Shirley?
- Que foi, Flecha?
- Promete?
- Prometo, Flecha, o que foi?
- Promete que nunca vai me esquecer?
(silêncio)
- Mas que conversa sem sentido é essa agora, meu amor? A gente vai ficar junto pra sempre...
- Não, Shirley. Já ouvi que ia ser pra sempre e o pra sempre acabou. Foi pro saco. Só me promete que, haja o que houver, mesmo que a vida nos separe e você vá pra uma outra dimensão, que você vai sempre lembrar de mim. Que mesmo que a gente nunca mais se veja, vai ter sempre um cantinho no seu peito pro que vivemos...
- Ai, Flecha...que conversa mais triste...pára...a gente nunca vai se separar...
- Pára não, Shirley. Promete, vai.
- Juro, Flecha. Juro.
- Não jura não. Promete. Prefiro.
- Tá bom, prometo. Mas vem cá pra eu te dar um beijo, vem.
(smack)
- Agora me dá uma coçadinha aqui, Flecha?
- Aqui aonde, Shirley? Na virilha?
- Isso, Flecha. Aí. Vou te amar pra sempre!
- Não promete o que você não pode cumprir, Shirley...não promete o que você não pode cumprir.
- Ai...você é foda, sabia? Às vezes me desanima!
- Por que? Pode acontecer, Shirley, pode acontecer...
- Se você continuar com esse papo, vai acontecer MESMO!
- Não disse, Shirley? Eu não disse?
(os nomes dos personagens são sim uma homenagem aos personagens de Luís Fernando Veríssimo - um dos meus grandes heróis da literatura)
terça-feira, fevereiro 17, 2009
Granulado em Preto-e-Branco
Por André Debevc
Posava toda sua naturalidade mansa com sossego felino, abrigada e preguiçosa, numa tarde de chuva sem relógio ou celular por tocar. Quase nua, sorvia o silêncio e esculpia movimentos quase em camera lenta (com trilha sonora claro), com a tranquilidade de quem vive um segredo. Abria sua intimidade pra ele como quem folheia, sem cerimônia nem pressa uma revista antiga, em sala de espera. Insinuações sempre são melhores que o escracho, dizia jogando dissimulada. E assim, fingindo não sentir lá no fundo nem um pouquinho de tesão, ia doando o que ninguém nunca poderia colecionar ou reunir: os melhores de seus fragmentos.
Posava toda sua naturalidade mansa com sossego felino, abrigada e preguiçosa, numa tarde de chuva sem relógio ou celular por tocar. Quase nua, sorvia o silêncio e esculpia movimentos quase em camera lenta (com trilha sonora claro), com a tranquilidade de quem vive um segredo. Abria sua intimidade pra ele como quem folheia, sem cerimônia nem pressa uma revista antiga, em sala de espera. Insinuações sempre são melhores que o escracho, dizia jogando dissimulada. E assim, fingindo não sentir lá no fundo nem um pouquinho de tesão, ia doando o que ninguém nunca poderia colecionar ou reunir: os melhores de seus fragmentos.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
depois de todo aquele silêncio
Por André Debevc
...e se alguma coisa tiver quebrado?
...e se for uma daquelas coisas que não tem conserto?
...e se for uma dessas coisas sem volta?
Uma pessoa só é realmente importante na sua vida
quando o que ela pensa, ou deixa de pensar,
faz toda a diferença para você.
...e se alguma coisa tiver quebrado?
...e se for uma daquelas coisas que não tem conserto?
...e se for uma dessas coisas sem volta?
Uma pessoa só é realmente importante na sua vida
quando o que ela pensa, ou deixa de pensar,
faz toda a diferença para você.
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Resolução Zero
Por André Debevc
Reveillon passado eu não fiz uma promessa de ano novo. Dez, nove, oito, sete...e nada. Nenhuma mísera resolução quase heróica pra seguir por 365 dias quando o dia raiou azulzinho lá num cafundó escondido do sul da Bahia. Não prometi parar de fumar porque não fumo. Não prometi parar de beber porque não minto. Não prometi ficar menos careca porque não posso. E sinceramente acho que entro o ano melhor assim. Livre, leve e solto, correndo e sorridente como mulher menstruada em comercial de absorvente interno. Um ser que pode tudo. Quer dizer, quase tudo porque infelizmente, ficar no paraíso (pois é gente, descobri onde fica) não era possível. Sem internet, sem hora, e em breve sem repelente. Até pensei em prometer voltar lá, mas aí lembrei: melhor mesmo é não ter que prometer nada, e ainda assim poder sair com o sorriso mais safado que tenho estampado bem aqui no rosto.
Reveillon passado eu não fiz uma promessa de ano novo. Dez, nove, oito, sete...e nada. Nenhuma mísera resolução quase heróica pra seguir por 365 dias quando o dia raiou azulzinho lá num cafundó escondido do sul da Bahia. Não prometi parar de fumar porque não fumo. Não prometi parar de beber porque não minto. Não prometi ficar menos careca porque não posso. E sinceramente acho que entro o ano melhor assim. Livre, leve e solto, correndo e sorridente como mulher menstruada em comercial de absorvente interno. Um ser que pode tudo. Quer dizer, quase tudo porque infelizmente, ficar no paraíso (pois é gente, descobri onde fica) não era possível. Sem internet, sem hora, e em breve sem repelente. Até pensei em prometer voltar lá, mas aí lembrei: melhor mesmo é não ter que prometer nada, e ainda assim poder sair com o sorriso mais safado que tenho estampado bem aqui no rosto.
quinta-feira, janeiro 08, 2009
Nada
Por André Debevc
Das coisas que você me deu, acho que não tenho mais nada.
Tudo que sobrou é buraco do que você levou embora.
Das coisas que você me deu, acho que não tenho mais nada.
Tudo que sobrou é buraco do que você levou embora.
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