Por André Debevc
quero beijar a sua boca com toda a atenção que a pressa não me
permite. me freio e preparo. afio todos os meus sentidos para quando esse
momento der as caras. que todos os seus e nossos cheiros se apresentem.
organizados em fila sem pressa ou hora pra ir embora. cabelo, pele, boca,
perfume e saliva alinhados em estado de graça. pressa, não. o gosto da sua boca
aflita ou mansa. tanto faz. dentes, língua e gostos dançando lentos no tempo
suspenso, como num filme granulado que vai deixar saudade. pressa, não. que as
mãos, minhas palavras e dedos, possam caminhar instigantes, pegando, trazendo,
apertando e descobrindo. interjeições, temperatura, tônus, resistência,
reticência e entrega. pressa, não. ouvir seu peito quando a respiração perder o
compasso, os leves estalos de lábios se reencontrando a cada instante. pressa,
não. palavras semi-inúteis, gravadas na memória, abrindo alas para o ósculo
(você sempre gostou dessa palavra). pressa, não. quero sua boca. de novo e de
novo. pra saber você sem nenhum desperdício e sem perder mais tempo. mas
pressa, meu amor, não. nunca.
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