sexta-feira, março 20, 2009

A eternidade começa aos nove minutos

Por André Debevc

Aproximadamente nove minutos depois de fechar os olhos, ela dá um suspiro alto e profundo, mergulhando fundo no sono da noite onde ela se aninha. Dormindo, ela não sabe disso. Nem disso, nem do quanto tempo passo imóvel, com um leve sorriso pendurado no rosto, praticando o meu adorado esporte de vê-la dormir, enquanto nossos futuros avançam de mãos dadas pra cada vez mais longe. Passo a mão no seu cabelo - tantas noites ainda molhado do banho - e sinto sua pele cada vez mais quente enquanto toda a energia inqueita que ela é repousa sem abrir a boca. Por causa dela, faz tempo que não preciso lembrar de nada velho para aquecer meu peito. Faço mil musiquinhas e jingles só nossos, pra animar a nossa vida e rotina corrida. Por causa dessa moça, com três tatuagens e unhas pintadas de vermelho, vejo crianças na rua e fico pensando em como serão os nossos filhos. Se terão os pés com tons de cor-de-rosa, ou quase fecharão os olhos quando gargalharem sem fazer barulho. Se darão esse suspiro adoravelmente fundo minutos depois de dormir, ou se me trarão desenhos e invenções criativos, feitos de coisas que sempre tivemos em casa. Agora já tem 12 minutos que ela fechou os olhos e dormiu. O segundo suspiro fundo – mais raso que o anterior, é verdade – vem aí. E esse eu também não posso perder. Até logo.