sexta-feira, maio 27, 2011

Irrecusável

Por André Debevc

O presente que trago para lhe dar é pessoal e intransferível. Nada de cheques nominais nem títulos da bolsa dos meus valores, apenas uma ilustração em cores de um desejo cultivado. Peço que seja guardado num lugar seguro totalmente livre de atentados. Preciso de sua cumplicidade, uns segundos de eternidade, o caminho inquieto da verdade. Talvez minha boca só sossegue ao sabor da sua, pode ser que as superfícies de nossas línguas se reconheçam de outras histórias. Que importa? O beijo que guardo para você foi amadurecido em barris centenários durante guerras e outros carnavais. Um segredo tão simples que seu consentimento sela silencioso para que que passe ao terreno da realidade um gesto pensado há milênios. Trago entre minhas palavras um presente que você não devia recusar.

Meu jeito de gostar do Rio

Por André Debevc

Gosto dos tons cinzas da chuva no Arpoador, as gatas vira-latas pingadas no parque, um domingo insistente de pés descalços nas pedras pichadas. Entre o asfalto e o morro às vezes o Rio é calmo, às vezes o Rio é morno (feito o mar em dia de chuva), mesmo quando não se vê o fim do Leblon. Aprendizes de flanelinhas ganham um trocado por fingirem deixar a chuva de lado. Eu acelero e nego o parentesco inexistente de quem corre em direção ao meu espelho retovisor. Apesar de tudo, ainda gosto do Rio. Balas perdidas que não me encontram, violência que vacila e desiste (ainda bem) em me vitimar. Consigo gostar do Rio sempre, um eterno caminho entre a favela e o mar.

segunda-feira, maio 16, 2011

Preciso escrever (e o blogger tá fora do ar)

Por André Debevc

Ando precisando escrever. Pra não explodir, pra relaxar e até mesmo pra matar a saudade de me deixar me ler sem ser por encomenda. Preciso de mais de 140 caracteres, preciso de histórias, que podem ser simples, podem ser só de um sorriso mais safado, podem ser um olhar que saiu assim queito e de lado. O enredo nem precisa ter lá suas glórias, saídas espetaculares ou heróis sem capa. Preciso é de linhas e letras, não de um mapa, pra poder voltar a ser um pouco mais do eu que mais gosto. Preciso escrever. Mesmo que o dia dispare e não deixe. Mesmo que a memória feche as pernas de tudo que vi ouvi, vivi e menti. Mesmo que eu negue todo lugar que fui, tudo que presenciei, todas as frases que já disse ou pensei e ninguém nunca se lembrou de anotar. Eu preciso escrever, que é pra voltar a respirar. E dormir e ser em paz.