quinta-feira, janeiro 31, 2008

vice-versa

Por André Debevc

quase 3 da manhã num meio de semana cinza de um verão frio. lá fora até a garoa e congonhas descansam. aqui depois do vigésimo andar, caixas de pizzas vazias e fatias órfãs se esparramam pelo ambiente com um cheiro engordativo e querendo não ser tão recente. no avançar do ponteiro e re-envio de emails, só se ouvem teclas batendo e a impressora incansável cuspindo insossa layouts repetidos. palavras poucas entremeiam suspiros longos. tem um copo de guaraná esquecido a caminho da escada. há olhares cansados e perguntas repetidas. meu amor foi dormir com raiva de mim pela minha ausência. será que ela sabe lá no fundo do peito, que nem deve sentir minha falta agora, que era trabalho? e que com trabalho eu não brinco. menos de 15 minutos pra 3 da manhã...e eu só penso em beijar a minha branca e dar o fora daqui. Ou melhor: vice-versa, que é pra poder não ter que parar os beijos tão cedo.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Bem Juntado

Por André Debevc

A gente não sabe mais dormir separado. E quando cai a madrugada de segunda-feira, depois de rolar mais de mil metros indo de lado a lado, lembramos com um quase sorriso de saudade no rosto que desaprendemos a dormir com um pedaço da cama desocupado. Chegamos naquele momento, raramente celebrado, onde os corpos só sossegam e descansam pra depois se cansar se um pedaço do seu pé pode me encontrar no meio da noite sem horário previamente acertado. Então vamos ver se vivemos, daqui por diante, sem faltas o nosso delicioso combinado: te dou casa na minha asa, e você me traz esse seu cheirinho gostoso de banho tomado. Não sei mais dormir separado, sem acordar à noite correndo o risco de ter o ante-braço mais lindo do mundo pelo meu peito docemente atravessado.

terça-feira, janeiro 15, 2008

Imperma o quê?

Por André Debevc

A paz de vê-la dormindo o fazia suspirar mais fundo na companhia singela de um sorriso, destes do tipo doce, mas sem qualquer sinal de dentes. Covinhas leves na bochecha talvez. Brilho de felicidade nos olhos talvez. O calor da mão dela largada quase inconsciente sobre seu peito, subindo e descendo em longos movimentos quase letárgicos, trazia uma sensação de paz e complitude que sua alma nunca tinha experimentado. Em tardes assim, com a luz sumindo pela janela de sábado, a impermanência – tanto lembrada pelos budistas - parecia brincar de mágica de desaparecer para sempre. Dentre os mil mais de mil segredos que ela guardava, esta era apenas mais uma de suas espetaculares habilidades. Destas do tipo que o faziam achar que ele podia ser muita coisa. Até mesmo o homem mais feliz do mundo.

Felicidade (em até 150 toques)

Por André Debevc

Quando percebeu, viu que era mais feliz do que pensou que pudesse ser. Teve até medo, mas mesmo assim decidiu não guardar pra si todo aquele sorriso.