quinta-feira, fevereiro 09, 2012

...ah, deixa...

por André Debevc

deixa eu tentar traçar a mediatriz que imaginariamente une suas tatuagens ímpares. deixa eu conhecer o relevo manso das suas cicatrizes, curvas e histórias. deixa eu chegar e brincar devagarinho na sua boca depois da visita de um bom sorriso e um vinho. deixa eu saber as palavras que seus olhos sussurram num taxi numa avenida engarrafada. deixa eu brincar com seu umbigo sem hora pra ir embora. te fazer cócegas com a minha barba cerrada. descansar a mão na sua coxa entregue. deixa te dar um braço e te fazer um cafuné. deixa a gente segredos só nossos. deixa minhas mãos te mostrarem toda alegria contida que têm quando encontram meu osso favorito de qualquer corpo. deixa eu te fazer rir de jogar a cabeça para trás. deixa eu chegar sem precisar avisar na sua nuca. deixa eu chegar e entrar, entre lambidas, suspiros e beijos. deixa eu poder ficar assim encostado em você por mais tempo. deixa no chão as suas duas desculpas práticas. deixa eu te dar uns três ou quatro beijos pra começar. deixa, vai.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

MAIS UM DIA

por André Debevc

respiro fundo
piso mais devagar
mudo de caminho
olho pra outro lado,
pra fugir da tentação.

mordo o lábio
engulo seco
penso em outra coisa,
hesito com os olhos
não me deixo
hesitar com as mãos.
pelo menos não na frente
de todo mundo.

vigio ponteiros
me contorço
sento direito,
me endireito
sem precisar cerrar
olhos ou punhos.

paquero
olho de esguelha
o que não posso,
o que não devo
o que queria
respiro fundo e vou
até onde consigo.
e eu consigo.

amanhã de manhã
a velha calça jeans
mais frouxa
é um jeito estranho
de me dar parabéns.

e começa mais um dia de dieta…