segunda-feira, março 28, 2011

Mandava, do verbo não mando mais (1996)

Por André Debevc

Eu mandava e desmandava naquele corpo.
mandava abrir,
mandava fechar.
Era senhor absoluto daquilo tudo
ou quase nada.
Um corpo aparentemente comum,
mas perfeito em sua imperfeição adaptada.

Bastava um olhar
e vinha mansa em brasa,
me abraçando e quase devorando.
Bastava um desvio de suspiros
e aquilo tudo se acalmava, ou fingia que sim.

Eu conhecia cada canto, cada pedra,
cada mato, cada pinta daquele corpo,
uma orquestra regida,
domada na minha rotina
(e como era gostosa aquela menina!).

O calor de toda curva,
a profundidade de cada dobra,
...ah, era arrepio de sobra...
e eu era locatário de tudo aquilo.
Meu reino, meu conjugado,
trilhas de suor,
terremotos de humor e desejo
(isso sem lembrar do seu beijo, um poema à parte).

Uma alma quase vermelha como o coração,
uma rosa, ou marte,
e tudo no controle nada remoto da minha vontade e disposição.

Eu mandava e desmandava naquele corpo...
até o dia em que o contrato acabou.

Hoje o corpo passa a centímetros de mim
sem piscar nem lembrar quem o fazia gotejar e até escorrer.

Eu já mandei naquele corpo.
Agora não faço a menor diferença.

(poema antigo)

Por André Debevc

Você fugiu feito o vento que ameaçava
aquela chuva que nunca veio.
Assim como o próximo beijo,
o carinho morreu no medo do que vinha depois dos comerciais da novela.
A distância assina sua apólice de seguros
quando você esquece fácil o universo que sabíamos criar.
O big bang do beijo perfeito
e tudo mais indefinível e sem muito jeito,
instalando a alegria em nós tão igual, tão diferente...
Você fugiu feito o vento que prometia chuva
e mareou meus olhos cansados de ter saudade
do que nunca me largou,
mas sempre foi embora.
O suspiro é fundo
só que não chega até onde você quebrou meu coração.