terça-feira, agosto 21, 2012

Vem dançar comigo


Por André Debevc

vem dançar comigo
uma música lenta
na penumbra

aproveita,
não tem
ninguém olhando,
espiando

vem dançar lento comigo
faz tempo que você não dança assim

vem 
se despe
se entrega
se deixa
vem 

vem dançar comigo

no passo que te levo
junto ao meu peito
bem próximo
assim do meu jeito,
palavras ao pé do ouvido
no tom perfeito
pra trazer você
pro meu beijo
pro meu cheiro

às margens da minha boca
as mãos passeando
na base das suas costas
onde tatuagens dormiriam
onde seu quadril
sempre acha uma saída 
num passo descompasso lógico
pra longe de mim

vem dançar comigo

quinta-feira, agosto 09, 2012

Com a ponta dos dedos

Por André Debevc

com a ponta dos dedos

te domo
te cativo
te amanso
te desarmo

da urgência da fuga
da inquietude de quem desconfia
do incômodo de quem não se entrega

passeio despretencioso e desavisado
sem alvo maldade ou pretensão
enquanto você me permite sua tensão sua pele
confiando segredo e cumplicidade
me permitindo ganhar até
uma certa intimidade
com sua maciez e seu calor

e aí
com a ponta dos dedos

te desato
nós e confissões
te acalmo em braile
te tenho quase perto
abrindo as mãos

quinta-feira, março 15, 2012

beijo molhado

Por André Debevc

Teu beijo soluça meu hálito indiscutível.
Somos a noite em que as estrelas foram roubadas.
A escuridão finge que abre a porta, nos pegando atracados,
e me beija com a língua encharcada.

Devo

Por André Debevc

Que caminho faço até sua boca?
Aonde meus lábios dançam com os seus?
Vi minhas mãos passeando pelas suas costas
enquanto nossas cabeças digladiavam docemente sorvendo um beijo
quando o vento batia displicente assistindo ao nosso espetáculo.
Seu cheiro inacreditável não me explica nada,
seu abraço desenhado na fumaça dos carros sempre passa
sem roubar qualquer melhor momento, apenas os ignorando.
E os lábios que reagem em câmera lenta,
assim a centimetros de distância, sem se dar conta dos efeitos colaterais
rastreando mudos os desenhos dos mais apaixonantes umbigos entorpecentes do universo.
Arrisco um atalho nesse descaminho. Posso?

Devo.

Quase dúvida (1998)

Por André Debevc

Tentei anular a pergunta
mas me perturba a resposta.
Insistência teimosa
e independente
circula lenta entre a gente.
Vivo comigo batendo uma aposta
sem saber fermentar ou medir minhas chances
num crescimento deslumbrado.
O processo da conquista,
xadrez na certa de passos cuidadosos.
Tem até uma impulsividade cretina
que às vezes me domina
me fazendo jogar tudo pra cima.
É que meu beijo quer morrer na sua saliva de menina
e minhas desordenadas linhas precisam de uma musa
pra poder decolar de novo batendofeito ilusão.
Preciso dar resposta a uma pergunta
mas só quero saber de uma opção.

quarta-feira, março 14, 2012

(sem título - 1999)

Por André Debevc

Jogo de palavras,
ensaio levemente delineados do desejo,
lábios se mordem se fitam de longe,
olhos que jogam trocando suas profundidades e
tons castanhos que investigam cada traço do rosto.
Expressões e sorrisos mapeados
em hora que parece continuar além dos minutos.
Iminência de risco,
a inevitável conclusão nos ronda
e num cinismo deslavado de bom humor
fingimos não sabermos bem o que fazemos. Jogamos.

A cada dia
minha boca fica mais perto da sua,
até estar dentro dela.
Talvez a inconseqüência voe por sobre as mesas
ou te ache numa esquina cinza do centro.

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

...ah, deixa...

por André Debevc

deixa eu tentar traçar a mediatriz que imaginariamente une suas tatuagens ímpares. deixa eu conhecer o relevo manso das suas cicatrizes, curvas e histórias. deixa eu chegar e brincar devagarinho na sua boca depois da visita de um bom sorriso e um vinho. deixa eu saber as palavras que seus olhos sussurram num taxi numa avenida engarrafada. deixa eu brincar com seu umbigo sem hora pra ir embora. te fazer cócegas com a minha barba cerrada. descansar a mão na sua coxa entregue. deixa te dar um braço e te fazer um cafuné. deixa a gente segredos só nossos. deixa minhas mãos te mostrarem toda alegria contida que têm quando encontram meu osso favorito de qualquer corpo. deixa eu te fazer rir de jogar a cabeça para trás. deixa eu chegar sem precisar avisar na sua nuca. deixa eu chegar e entrar, entre lambidas, suspiros e beijos. deixa eu poder ficar assim encostado em você por mais tempo. deixa no chão as suas duas desculpas práticas. deixa eu te dar uns três ou quatro beijos pra começar. deixa, vai.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

MAIS UM DIA

por André Debevc

respiro fundo
piso mais devagar
mudo de caminho
olho pra outro lado,
pra fugir da tentação.

mordo o lábio
engulo seco
penso em outra coisa,
hesito com os olhos
não me deixo
hesitar com as mãos.
pelo menos não na frente
de todo mundo.

vigio ponteiros
me contorço
sento direito,
me endireito
sem precisar cerrar
olhos ou punhos.

paquero
olho de esguelha
o que não posso,
o que não devo
o que queria
respiro fundo e vou
até onde consigo.
e eu consigo.

amanhã de manhã
a velha calça jeans
mais frouxa
é um jeito estranho
de me dar parabéns.

e começa mais um dia de dieta…