terça-feira, abril 22, 2008

A Blueberry Life

Por André Debevc

Cores saturadas, movimentos laterais em camera lenta e muitos silêncios. Lembranças são assim, peças órfãs e granuladas de quebra-cabeças sem trilha sonora ou frases de efeito ricocheteando pela eternidade. Finais que não engolimos e chaves de portas que fecharam, perdidas em um jarro de vidro onde nadam histórias contadas por um só lado. Ninguém ensina a gente na escola a ser deixado. Mas se a gente deixar, o mundo até gosta que a gente se reinvente.

sexta-feira, abril 18, 2008

Melhoras

Por André Debevc

A distensão já melhorou bastante. E a panturrilha já tá bem menos inchada. Sempre achou engraçado este nome. Panturrilha. Melhor que chamar de batata da perna, diz. Nem parece batata. Andar já anda mais fácil, assim como levantar da cama de manhã. Hoje mesmo nem queria sair da cama. A namorada ali, quentinha e cheirosa, pedindo pra ele inventar uma desculpa e ficar ali na cama, sem precisar levantar e descobrir que a panturrilha melhorou. Não deu. Levantou depois que o despertador tocou pela segunda vez. Foi pro banho ainda pensando se casar e morar junto é a mesma coisa. Anda pensando. Em morar junto. Ele e a moça que não acorda cedo às sextas-feiras. Afinal também é o rodízio dela, né? O dele não é hoje. Foi na quarta. Dia da distensão. A batata da perna rasgando. Batata não, panturrilha. Passou dias mancando. Anti-inflamatório e gelo. Andar, só devagar. Como os amigos que vão se perdendo pelo caminho. Anda pensando. Nos amigos. Em fazer um esporte diferente. Já até mudou o visual. Óculos novo e meia dúzia de peças virgens no armário. No trabalho anda até mais falante. Culpa da distensão que o deixou mancando. Ela não é a única coisa que já melhorou bastante.

quarta-feira, abril 16, 2008

outro dia

por André Debevc

Tem dias que, sem motivo ou explicação, uma tristeza gigantesca invade minha alma. Aí fica reverberando nos ossos aquela saudade imensa de não sei bem o quê, que tira o brilho dos meus olhos e deixa meu sorriso opaco. Uma quase dor latente que dá um sono e uma preguiça danada, às vezes até de falar, acreditem. E me faltam respostas ou justificativas. E reviro os bolsos da minha existência, vasculho os cantinhos pouco varridos da vida, e nada. Nada explica essa minha tristeza. Nem a programação pobre da tv, nem avenida engarrafada. É meu dia de reticências. Sem alegrias nem tragédias, sem sorrisos verdadeiros nem elogios falsos. Tem dias que uma tristeza gigantesca invade minha alma, uma tristeza que não é minha. Espero que amanhã não seja um destes dias. Porque hoje já não tem como não ser.