quarta-feira, dezembro 05, 2007

Amor lembrado

Por André Debevc

Com você eu só quis ser assim…o melhor dos seus namorados. Na verdade teve até um tempo em que quis ser eterno, mas acho que não tinha como ser desse jeito, um sujeito tão seriamente condenado. Então decidi eu que queria mesmo depois de milênios ser lembrado, como o melhor e mais feliz dos seus amados. O melhor beijo, a melhor língua, sempre o mais deliciosamente dedicado. E até quando, longe dali, fazendo as vezes de pedaço estilhaçado e ímpar do passado, no que tivesse atravessando a rua distraído ou correndo o mundo alucinado, eu só queria ser seu mais valioso e apreciado amor. Aquele que fizesse você sorrir (e quem sabe ter até um pouquinho de saudade paralítica, dessas que não movem nem um dedinho), um amor que merecesse e soubesse de algum jeito bobo, nosso e lindo, que é sim um amor muito bem guardado.

Um comentário:

Paula disse...

André, que coisa mais linda esse texto. Sabe que eu também sempre tenho essa sina na cabeça de querer ser lembrada pelos meus ex? Por alguns desinteressantes até sou... Deve ser pq eu tenho Vênus em Cãncer... que no caso é seu signo, né? )risos!)Vou tomar a liberdade de colocar aqui uma poesia da Cecília Meireles que li um dia sobre o canceriano.

Uma Poesia para Câncer

Minha família anda longe, contravos de circunstancias: uns converteram-se em flores, outros em pedra, água, líquen, alguns, de tanta distância, nem têm vestígios que indiquem uma certa orientação.
Minha família anda longe - Na Terra, na Lua, em Marte - uns dançando pelos ares, outros perdidos no chão.

Tão longe, a minha família!
Tão dividida em pedaços!
Um pedaço em cada parte...
Pelas esquinas do tempo, brincam meus irmãos antigos: uns anjos, outros palhaços...
Seus vultos de labareda rompem-se como retratos feitos em papel de seda. Vejo lábios, vejo braços, - por um momento, persigo-os; de repente os mais exatos, perdem a sua exatidão. Se falo, nada responde. Depois, tudo vira vento, e nem o meu pensamento pode compreender por onde passaram nem onde estão.

Minha família anda longe.Mas eu sei reconhecê-la: um cílio dentro do Oceano ... um pulso sobre uma estrela, uma ruga num caminho caída como pulseira, um joelho em cima da espuma, um movimento sozinho aparecido na poeira... Mas tudo vai sem nenhuma noção de destino humano, de humana recordação. Minha família anda longe.Reflete-se em minha vida, mas não acontece nada: por mais que eu esteja lembrada, ela se faz de esquecida: não há comunicação! Uns são nuvem, outros lesma... Vejo as asas, sinto os passos de meus anjos e palhaços, numa ambígua trajetória de que sou o espelho e a história. Murmuro para mim mesma: "É tudo imaginação!"

Mas sei que tudo é memória...

Beijos,
Paulinha