sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Conversa com sentido

Por André Debevc

- Me promete uma coisa, Shirley?
- Que foi, Flecha?
- Promete?
- Prometo, Flecha, o que foi?
- Promete que nunca vai me esquecer?
(silêncio)
- Mas que conversa sem sentido é essa agora, meu amor? A gente vai ficar junto pra sempre...
- Não, Shirley. Já ouvi que ia ser pra sempre e o pra sempre acabou. Foi pro saco. Só me promete que, haja o que houver, mesmo que a vida nos separe e você vá pra uma outra dimensão, que você vai sempre lembrar de mim. Que mesmo que a gente nunca mais se veja, vai ter sempre um cantinho no seu peito pro que vivemos...
- Ai, Flecha...que conversa mais triste...pára...a gente nunca vai se separar...
- Pára não, Shirley. Promete, vai.
- Juro, Flecha. Juro.
- Não jura não. Promete. Prefiro.
- Tá bom, prometo. Mas vem cá pra eu te dar um beijo, vem.
(smack)
- Agora me dá uma coçadinha aqui, Flecha?
- Aqui aonde, Shirley? Na virilha?
- Isso, Flecha. Aí. Vou te amar pra sempre!
- Não promete o que você não pode cumprir, Shirley...não promete o que você não pode cumprir.
- Ai...você é foda, sabia? Às vezes me desanima!
- Por que? Pode acontecer, Shirley, pode acontecer...
- Se você continuar com esse papo, vai acontecer MESMO!
- Não disse, Shirley? Eu não disse?

(os nomes dos personagens são sim uma homenagem aos personagens de Luís Fernando Veríssimo - um dos meus grandes heróis da literatura)

3 comentários:

Flávia disse...

Ah, tem gente que faz de tudo pra arrumar motivos pra ser lembrado. Pena que nem sempre os motivos são melhores...

Beijos :)

Anônimo disse...

Gosto muito do seu blog, é na melancolia que você escreve maravilhosamente bem!

Ideia Retro disse...

Teus personagens masculinos são quase sempre românticos, o que é contraditório e surpreendente, uma vez que o ser masculino normalmente possui outras características como a objetividade, uma frieza maior, e um distanciamento, quase negação dos sentimentos. Mas desafiando o status quo, teus personagens são puro sentimento, são ferida à flor da pele, e são capazes de compreender e decodificar o mundo subjetivo dos detalhes (cheiros, cores, tatos, etc.). Todavia, quando estes personagens não o são, quando agem mais de acordo com o estereótipo masculino vigente, é de maneira gentil e educada.
Já os temas abordados, ah... Relacionamentos, humores, amor, sexo e todas as suas ramificações. És mestre na descrição de atos sexuais, consumados ou não, bem como da geografia feminina. A maneira como estas descrições acontecem, no entanto, é que são o ponto forte, refinadas, entrando suavemente nos ouvidos, sem chocar, sem machucar, mescladas num enredo sempre mais profundo.
As lentes que utilizas para traduzir o universo feminino te colocam no patamar, sem dúvida, e sem rasgação de seda, dos melhores escritores contemporâneos. E por falar nisto, livro à vista? Eu compraria!
Agora falando um pouquinho só do que eu senti. Eu me senti personagem, me identifiquei com as figuras, me questionei, e afirmo que o efeito da leitura do teu blog em mim foi equivalente a algumas sessões de terapia (li 2008 inteiro e 2009).
O que mais posso fazer senão te agradecer por dividires com o mundo a tua obra? Valeu.