sexta-feira, outubro 02, 2009

Sonhos Perdidos

Por André Debevc
Ando precisando me lembrar mais dos meus sonhos. Daquilo que eu queria quando era criança, de tudo que pensei e queria estar vivendo a essa altura desse campeonato disputadíssimo que é estar vivo. Será que eu queria ter um labrador chocolate? Ser escritor? Ser astronauta? Ou será que eu só pensava mesmo em ter uma Ferrari vermelha tipo a do Magnum? A essa altura será que já era pra ter filhos? Morar numa casa com piscina? Mas mais importante que isso...em todas as minhas mudanças de país, de cidade, de casa, de emprego e até de namorada...onde foi que foram parar meus sonhos? Estarão naquela pasta azul-claro junto com a minha certidão de nascimento original? Será que ficaram na casa da minha mãe junto com aquela caixa com fotos das minhas viagens, amigos e histórias do passado? Onde andam meus sonhos? Perdidos numa peça de bagagem que, sem que eu percebesse, extraviou? Ou teriam sido rasgados por engano juntos com uma correspondência me oferecendo mil vantagens num cartão de crédito que nunca fiz? Não sei. O pior é que não faço a menor idéia. O moleque de franja e cabelos castanhos lisos, que fui um dia, me olharia decepcionado se me encontrasse agora. Não sei onde estão meus velhos sonhos, mas não me esqueci de você, garoto. Eu vou achar tudo que me movia, prometo. Vou achar tudo aquilo que você (eu) queria que eu fosse. Vou viver tudo aquilo que a gente queria pra nós. Não posso decepcionar você. Você, hoje e sempre, é tudo que tenho. É a você a quem devo satisfações. Olhando a velha foto em preto-e-branco eu me lembro disso. Olhando a velha foto, eu não sei nem como faço pra pedir desculpas, por ter perdido tudo aquilo que você, moleque feliz e sorridente que era a alegria da casa, sonhava. Mas eu prometo que vou fazer você orgulhoso de mim. Prometo e vou cumprir. Sei que você não espera, e não vai aceitar, nada menos que isso.

6 comentários:

Caroline Fortunato disse...

No fundo todos nós perdermos sempre nossos sonhos da meninice. E sempre acabamos sonhando outras coisas e realizando tantas outras que talvez nunca tenham sido sonhadas.
O que mais incomoda nisso tudo, é a sensação de que mudamos quem somos ora por não sonharmos mais as mesmas coisas, ora por não termos realizado aquilo que queríamos. Mas nunca somos os mesmos depois de uma viagem ou do primeiro amor, ou do milésimo amor, ou do primeiro emprego, faculdade. Não somos mais a mesma pessoa que corria pela casa desfilando uma saúde óssea invejável ou aprendendo a colorir cartões para o dia das mães. A cada dia somos diferentes e, talvez por isso, nos distanciamos cada vez mais da nossa imagem de criança. Nostalgia? Quem sabe? Acho mesmo que um dia todos sentimos "saudade da aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais". É. Acho que, um dia, todos se sentem assim...

Abraços!

maria disse...

Será?

Eu também não fiz nada parecido com os meus sonhos de criança, ou de adolescente, ou até mesmo de adulta.

Mas não sei dizer se isso é bom, ruim, mais ou menos... a existência é muito misteriosa.

Cris Marassi disse...

Belíssimo texto! Uma porrada saudável nos adultos que se perderam em suas rotinas! ;)
Parabéns!

Anônimo disse...

Me senti como se eu mesmo estivesse escrevendo esse post, mas sobre algo que eu jamais seria capaz de escrever.
Essa semana eu decidi fazer exatamente a mesma coisa. Seguir meus sonhos, e deixar pra trás tudo o que eu não gostaria de ter me tornado.
Obrigado por ter me lembrado disso.

Mayra Montenegro disse...

Eu chorei.
Escrevi junto contigo.
Farei.
Sonhos, aqui vou eu!

Anônimo disse...

quando li "Olhando a velha foto, eu não sei nem como faço pra pedir desculpas..." meus olhos se encheram d'agua.