quinta-feira, agosto 02, 2007

Nem todo final consegue ser feliz

Por André Debevc
“Melhor uma dor com fim do que uma agonia sem fim.” Não, não esta frase não é de Sêneca e nem de nenhum outro filósofo ou pensador zen pregando o desapego. É uma frase de minha bisavó. Ou pelo menos é a ela que minha mãe costuma atribuir o dito. A velha dona Mariquinha, casada com um dos homens mais metódicos da Araguari do século passado (diz a lenda que as pessoas acertavam o relógio pela hora em que meu bisavô saía do trabalho para almoçar em casa), tinha razão. Finais – ardentes, insossos, trágicos, felizes, previsíveis – quaisquer sejam eles, são sempre necessários.

Histórias abertas são feridas que nunca cicatrizam. Produzem gente que vaga por aí com bolsos cheios de pontos finais nunca colocados, pessoas que tentam andar para frente olhando para trás. Gente que manca da alma e sente sempre um gosto estranho quando engole seco. E pensando nessa gente, lembro de um livro, que li ainda adolescente, com um nome muito sugestivo, desses que deixa claro o quanto finais são importantes: “Todas as histórias de amor terminam mal”. Já concordei e discordei do titulo mil vezes. Hoje só sei que toda história PRECISA terminar. Seja ela de amor, seja de ódio – indiferença não, porque indiferença não presta pra nada, e é analfabeta de pai e mão pra falar bem a verdade.

E não sei se é a época do ano, cheia de finais de temporada na tv a cabo, ou se foi a minha amiga Marina (www.lebalmasque.blogspot.com) charlando com o assunto, mas sei que nestes dias, finais, começos e arquivos mortos emocionais pairam sobre a minha cabeça. Penso, peno, penso e lembro de finais que vivi e uns que vagam sem fecho por aí – cheios de coisa pra dizer que nunca serão ditas e cheios de silêncios por fazer que nunca serão feitos. Como eu gostaria de tê-los vivido...estaria menos fragmentário, eu acho.

Somos personagens eternamente em construção. Frutos de cada história, levemente alterados a cada final. A canalhice cometida com alguém que você amava, o amor que não soubemos corresponder, a paixão errada, a dor de ter sido trocado, a mágoa de ter sido deixado, a alegria vingativa (e sem nenhum porque) de deixar, o reencontro que não significou nada, enfim tudo modifica imperceptivelmente e para sempre quem somos de um jeito ou de outro.

Fins, afins, sem fins, ser-a-fim. Me ocorre agora como não querer que algo tenha acabado é completamente diferente de não querer que tenha tido um fim. Eu já quis que as poucas coisas que amei de verdade nessa vida nunca acabassem, mas acho que sempre soube – inundado de melancolia e borboletas nucleares no estômago - que todas precisavam, alguma hora, ter um fim. Mas nem todas tiveram esta sorte.

6 comentários:

Anônimo disse...

Existem pequenas exceções para todas as regras, inclusive essa.
com amor

Marina disse...

É interessante como seguimos, cada um, um viés do tema. Esse seu texto sobre finais (nem sempre felizes) me traz de volta idéias que sempre me passaram pela cabeça, como por exemplo, a de que histórias mal-terminadas não cicatrizam. Pura verdade.

maíra disse...

histórias mal-terminadas não cicatrizam. (2)

a maior verdade de todas

Aline disse...

Uma verdade bem dita (ou escrita).

Beijos.

Anônimo disse...

Engraçado, acabei de postar um comentário no Le Bal dizendo que certas coisas nunca têm fim, mas como a própria autora diz, os caminhos dos textos de vocês são completamente diferentes.
Desse ponto de vista, André, é verdade, quantas vezes não sentimos vontade de voltar atrás e finalizar algumas coisas de outra maneira. É por isso que a maturidade faz bem. Porque acreditamos que não repetiremos alguns finais da mesma maneira desastrosa do passado - rs.

F. disse...

Permitam-me discordar de uma coisa: tudo cicatriza. Pode demorar menos, pode demorar mais, mas só não cicatriza a ferida que você revira conscientemente todos os dias...