quinta-feira, março 15, 2012

beijo molhado

Por André Debevc

Teu beijo soluça meu hálito indiscutível.
Somos a noite em que as estrelas foram roubadas.
A escuridão finge que abre a porta, nos pegando atracados,
e me beija com a língua encharcada.

Devo

Por André Debevc

Que caminho faço até sua boca?
Aonde meus lábios dançam com os seus?
Vi minhas mãos passeando pelas suas costas
enquanto nossas cabeças digladiavam docemente sorvendo um beijo
quando o vento batia displicente assistindo ao nosso espetáculo.
Seu cheiro inacreditável não me explica nada,
seu abraço desenhado na fumaça dos carros sempre passa
sem roubar qualquer melhor momento, apenas os ignorando.
E os lábios que reagem em câmera lenta,
assim a centimetros de distância, sem se dar conta dos efeitos colaterais
rastreando mudos os desenhos dos mais apaixonantes umbigos entorpecentes do universo.
Arrisco um atalho nesse descaminho. Posso?

Devo.

Quase dúvida (1998)

Por André Debevc

Tentei anular a pergunta
mas me perturba a resposta.
Insistência teimosa
e independente
circula lenta entre a gente.
Vivo comigo batendo uma aposta
sem saber fermentar ou medir minhas chances
num crescimento deslumbrado.
O processo da conquista,
xadrez na certa de passos cuidadosos.
Tem até uma impulsividade cretina
que às vezes me domina
me fazendo jogar tudo pra cima.
É que meu beijo quer morrer na sua saliva de menina
e minhas desordenadas linhas precisam de uma musa
pra poder decolar de novo batendofeito ilusão.
Preciso dar resposta a uma pergunta
mas só quero saber de uma opção.

quarta-feira, março 14, 2012

(sem título - 1999)

Por André Debevc

Jogo de palavras,
ensaio levemente delineados do desejo,
lábios se mordem se fitam de longe,
olhos que jogam trocando suas profundidades e
tons castanhos que investigam cada traço do rosto.
Expressões e sorrisos mapeados
em hora que parece continuar além dos minutos.
Iminência de risco,
a inevitável conclusão nos ronda
e num cinismo deslavado de bom humor
fingimos não sabermos bem o que fazemos. Jogamos.

A cada dia
minha boca fica mais perto da sua,
até estar dentro dela.
Talvez a inconseqüência voe por sobre as mesas
ou te ache numa esquina cinza do centro.