quarta-feira, novembro 13, 2013

Pressa não (1999)


Por André Debevc

quero beijar a sua boca com toda a atenção que a pressa não me permite. me freio e preparo. afio todos os meus sentidos para quando esse momento der as caras. que todos os seus e nossos cheiros se apresentem. organizados em fila sem pressa ou hora pra ir embora. cabelo, pele, boca, perfume e saliva alinhados em estado de graça. pressa, não. o gosto da sua boca aflita ou mansa. tanto faz. dentes, língua e gostos dançando lentos no tempo suspenso, como num filme granulado que vai deixar saudade. pressa, não. que as mãos, minhas palavras e dedos, possam caminhar instigantes, pegando, trazendo, apertando e descobrindo. interjeições, temperatura, tônus, resistência, reticência e entrega. pressa, não. ouvir seu peito quando a respiração perder o compasso, os leves estalos de lábios se reencontrando a cada instante. pressa, não. palavras semi-inúteis, gravadas na memória, abrindo alas para o ósculo (você sempre gostou dessa palavra). pressa, não. quero sua boca. de novo e de novo. pra saber você sem nenhum desperdício e sem perder mais tempo. mas pressa, meu amor, não. nunca. 

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