quinta-feira, dezembro 07, 2006

Brilho eterno de um peito vazio

Por André Debevc
Quem veio te apagar da minha mente esqueceu de se livrar do meu sorriso vendo suas calcinhas coloridas, você correndo pelo corredor de casa quase pelada, sua boca aberta quando você dorme voltando pra casa depois do motel. Esqueceram de apagar os lenços de papel que você largou pelo carro e pela minha vida, os seus esmaltes anti-alérgicos e suas calças 38. Deixaram pelos cantos as marcas dos seus pés sempre descalços, no vidro do carro que nem existe mais, seu sutiã de mil alças jogado no canto do quarto e o jeito sapeca que você ajeitava os peitos pra eles sempre parecerem maiores. Quem veio te apagar da minha vida foi embora e parece ter deixado aqui como eu adorava você me pedindo pra coçar sua virilha ou vindo correndo na minha direção na cozinha pra depois pular em cima de mim e me embrulhar com suas coxas. Quem quer que tenha vindo fazer o serviço de te arrancar de dentro mim não levou a imagem de você cortando pão com tesoura ou enchendo o copo com nescau demais pelas manhãs. Não levaram você esfregando os peitos na minha cara ou abrindo, moleca, a toalha só pra me mostrar o corpo lindo e molhado com seus pais na porta aberta logo ali ao lado. Deixaram em algum desses meus cantos a lembrança feliz de ver seu carro chegando e você me beijando antes da porta do elevador tentar fechar pela milésima vez a cada vez que eu ia embora. Esqueceram de deletar suas pernas grossas jogadas sobre mim numa noite de semana no sofá, que eu achava ser azul, enquanto víamos alguma série na televisão. Quem veio te tirar da minha alma não cortou você tentando ajeitar minhas cutículas numa noite de biscoito Bono ou pipoca de microondas. Quem quer que tenha vindo com a tarefa de tirar você da minha cabeça certamente esqueceu de apagar o encaixe dos nossos beijos e aquele cheirinho que você tem atrás da orelha que eu adorava tanto. Deixaram jogado por aqui também os seus pés brincando com os meus e me dando beliscões, o jeito que você gostava de me ver de óculos e me chamar de cabrito, e o sorriso que espocava nos seus olhos toda vez que você me falava de Bali ou do Macarrão. Esqueceram de levar do meu peito a cicatriz do seu joelho esquerdo e a da velha cirurgia de quando você ainda era pequena, a bagunça eterna do seu carro e a sua inacreditável memória pra letras de música. E quem foi que deixou aqui dentro o jeito lindo que você não consegue falar direito “world” e o barulhinho insistente que você fazia toda vez que a gente dormia em São Paulo? De uma maneira ou de outra, partiram e não deletaram a alegria de andar com você no shopping ou o jeito que você entorta os pés quando mexe nas roupas penduradas na loja antes de parar na frente do espelho fazendo mil caras. Pois é menina, deixaram você dizendo que a gente era um time, lendo bestsellers pra arrumar um jeito de ganhar dinheiro e me contando de Wicca. E olha que também não deram sumiço nos beijos perfeitos, nas risadas – a gente ria muito, lembra? - e no nosso jeito todo nosso de falar mal de alguém. Deixaram por aqui a diversão dos trezentos casamentos e a gente dancando NewYorkNewYork na ponte do Caiçaras numa cumplicidade e alegria que ninguém nunca viu. Não apagaram a nossa ida ao Garota da Urca com você dançando em cima do capô do bolinha, nem a noite que você bebeu demais no Baixo e só queria que eu te levasse dali e arrancasse sua roupa. Não tiraram daqui um monte de coisa. Seu jeito de me chantagear fazendo cara de gato de botas, as nossas noites em Búzios, no Leblon e Teresópolis ou na vez em que não fomos ao noivado da sua irmã porque você tava passando mal. Nós éramos ótimos juntos. Será que você lembra? Ai, canalhas que pediram alto para tirar você da minha cabeça... Não apagaram o quanto eu te amava e gostava de pegar engarrafamento com você depois de acordar ao seu lado, quase sempre atrasada pra faculdade. Ai, deus. Quem veio te apagar da minha mente fez mesmo foi um belo de um serviço de porco.

3 comentários:

Anna Soares disse...
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Manoel Júnior disse...

caro andré,

estou te linkando, pois adorei os seus textos. são perfeitos, parabéns...

ah!as poesias então, sem comentários...

Anônimo disse...

Não sei que vc é.. e nem o que pretende... só sei que navegando o encontrei. Me apaixonei e irei segui-lo onde quer que for..
parabens e mil beijos