terça-feira, março 18, 2008

Outro meio, outro fim

Por André Debevc

Espero que isso nunca me complique, mas sei que sempre que falar de você, vou acabar sorrindo. Complicar por que, ele perguntou. Ah, sei lá…você sempre acaba com umas mulheres ciumentas, que não gostariam de saber o que tivemos. Quer dizer, na verdade acho que é normal ficar incomodada quando você suspeita que o seu namorado teve uma relação super carnal com uma mulher que está ali te dando dois beijinhos com a cara mais deslavada do mundo. Carnal? – Ele indagou. Como mais poderíamos classificar o que tiveram, pensaram. Ele ousou dizer que nunca precisaram dar nome pro que tinham. Verdade, ela disse. E aí sorriu. E assim se despediram deste quase desencontro. Ali no aeroporto onde ela voltava para sua casa em Paris e ele passava por um desvio de ponte aérea em dia de neblina baixa.

Ao vê-la ir embora quem sorriu em silêncio foi ele. Vendo a ir, elegante e discreta como sempre. A mulher com quem, alguns anos antes, tinha vivido um intenso e rápido caso de sexo e amizade. Nada oficialmente clandestino, mas também longe de ser publicamente assumido, mesmo que nenhum dos dois tivesse compromisso pra impedir. Muito pelo contrário, vinham de desastres emocionais e estavam, os dois, com o coração fechado para balanço. Mas nada que impedisse o corpo de funcionar, claro.

Os encontros frequentes por causa de amigos em comum foram o princípio impensado de tudo. E quando se deram conta, estavam na sala, na cama, no box, no mar. Amantes sem compromisso ou paixão para os condenar ao fracasso. Vivendo uma maratona de pernas, línguas, calores e aquele suor que só costuma pingar de corpos muito ofegantes e sempre prontos para mais.

E o que crescia, rentitente como capim colonião, entre os encontros feitos para o sexo, era amizade. Conversas raras, do tipo mais sincero que um homem pode ter com uma mulher. Um papo realmente desprovido de intenções ou armadilhas, tão nu quanto ele e ela numa velha tarde de Natal, antes de cada um seguir para suas famílias sem trocar ao menos um presente. Eles que voltariam ali algumas outras vezes para descobrir os corpos um do outro. Com bocas, mãos, lábios e sexo cúmplices apenas na tarefa de se darem prazer. Sempre.

Estritamente sexo. Sem apego, esperanças ou promessas. Sexo tão compatível que chegava a dar medo. Os corpos nus, ou sempre a caminho de se arrancarem as roupas. Ela que costumava dizer que ele só tinha uma habilidade maior do que a com as palavras: a habilidade que tem com a boca. Ele que sorria cínico em público ao vê-la passar com seus peitos espetaculares e uma atitude de fazer padre engasgar em plena missa.
Ela era mesmo uma mulher sensacional. Em tudo. Bonita, inteligente, interessante e muitíssimo talentosa e fogosa entre lençóis, no chão, na água. Ele era um homem comum, atormentado pelo passado e com uma certeza: a de que uma mulher daquelas não apareceria na sua vida todos os dias. Talvez fosse até bom que fosse assim. Superficial e intenso. Quente e úmido e com cheiro de coito como o ar pesado das tardes que passavam juntos.

Entre amigos, a cordialidade e distância deles escondia a voracidade e vontade com que se despiam quando ficavam sozinhos. Admiravam-se, sem dúvida. Sempre gostaram do sacarcásmo e inteligência um do outro. Sempre gozaram muito um com o outro. O calor lascivo dela, as tentativas de acrobacias dele, a disposição dos dois. Em alguns momentos chegaram a se entender só no olhar. Foi quando começaram a perceber o quanto gostavam do cheiro, jeito de pegar e do calor um do outro. Foi quando ele começou a pensar nela no caminho de volta pra casa. Foi quando ela começou a esperar que ele ligasse.

Um dia o telefone nunca mais tocou. Talvez a regra fosse mesmo essa. A regra não dita para que sempre sorrissem quando ouvissem o nome um do outro. Respeito e carinho por uma amiga que adorava prender o rosto dele entre as coxas. Uma amiga que sorri quando fala dele. Como ele sorri quando pensa nela. Mágoa nenhuma, nunca. Assim como deveria ser sempre. Ainda bem.

5 comentários:

Anônimo disse...

oh! os jovens... quanta intensidade em suas palavras e quanta cumplicidade entre os desejos...
Lindo texto, parágrafos completos coisa rara por qui...rsr
bj
maíra

Vanessa disse...

É fato! Já vi essa novela antes... Mais uma vez, você foi perfeito! Sempre surpreendendo...

Anônimo disse...

texto lindo de uma situação muitas vezes vividas, rs...
beijos pra vc
milenamb

Anônimo disse...

maybe when he was coming back home he started to think about the friendship and the kind of special love that he feels about her.
in the midlle of the sugarkanes, alone in the car, the stars in the sky showed that theres a huge possibility of being togheter, but just the time to solve things, and just the time to set a heart free of the world again..
dreams just become true when you´r not expecting it, and have you, no mi-ni-mo como amiga =) ja é um sonho pra mim.
ainda bem que sempre nos teremos

Anônimo disse...

Ai ai... Não sei se vc ajudou ou complicou a minha vida com esse texto...