quarta-feira, julho 08, 2015

POR TRÁS DE ESPELHOS EMBAÇADOS

por André Debevc
não saberia dizer
exatamente quando,
mas um dia perdido desses,
lavando o rosto numa manhã
como tantas outras,
percebeu,
que o espelho já lhe riscava na pele
recém chegados ensaios de rugas.
e que,
além de tantos fios de cabelos,
milhares de lembranças e sensações ,
algum dia tão queridas,
também tinham ido embora
pelo ralo dos dias.
já não sabia
onde tinha posto
a coleção privativa
de dores e cicatrizes
que por tanto tempo
tinham feito dele
ele.
e
nos ecos do silêncio da manhã
de um imenso banheiro azul,
achou,
no riscos amarelos
de sua íris marrom esverdeada,
traços claros de quem
ele nunca tinha deixado de ser.
foi quando não conseguiu
segurar o sorriso
que só quem se encontra
depois de muito tempo
conhece.


a maior de todas as saudades
é de quem nunca foi embora,
mas andava esquecido há tempos. 

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