domingo, agosto 01, 2010

Músicas de amor são um lixo…

André Debevc

Toda grande musica de amor é uma porcaria. Não, amigo, não estou sendo radical nem sarcástico. Não importa se você é durão ou finge que isso não te afeta, se já amou mesmo uma mulher, sabe que as grandes músicas de amor são mesmo uma grande tragédia pro peito.

Sou um desses sujeitos que ama ouvir música e dirigir – principalmente na chuva. Se me distraio, canto no chuveiro, e se bobear, fico como minha mãe, que cantarola até mesmo enquanto lê jornal. É justamente por me considerar vidrado em música, que sei que assim como toda história termina mal, toda grande música de amor faz o coração silenciosamente engolir seco vidro moído com vodca.

As grandes canções de amor têm sempre algo em comum: trazem uma lembrança muito particular. Seja lembrando de como ela ria jogando a cabeça pra trás ou no modo como cantam como a idéia dela por perto faz falta.

Você não precisa ser Charles Bukowski e ter o fígado derretido por álcool e lembranças para ser um homem com uma história e bilhões de fantasmas que um dia foram doces mulheres. Toda mulher que vale alguma coisa vem com uma música. Toda história que vale a pena esconder ou contar (depende de como você for) tem uma trilha. Mas só as mulheres e amores que nunca morrem por completo é que sempre vão te encarar nos versos de uma grande música de amor, por mais distante no tempo que as duas (a mulher e a música) tenham acontecido entre si.

Boas músicas (como True Love Waits, do Radiohead) são mulheres que conseguiram viver para sempre. Um jeito distorcido de Deus brincar. O rádio do carro, que só tocava porque os cds jogados lá já cansaram, traz sem nenhuma piedade a porcaria que mais mexe com você (no meu caso, Wish You Were Here – que mesmo tendo sido feita para um macho, é perfeita), só para te fazer engolir aquele vidro moído de uns parágrafos acima.

Já me acostumei a dizer que tive coração, que não entro mais nessa de amar, e por isso insisto com isso de que toda grande música de amor é uma violência com nossas pretensas feridas curadas, com todas nossas histórias pensadas enterradas, e resolvidas.

Tem muita gente que finge não ligar, que brada aos quatro ventos que não é atingido pelos estilhaços dessas músicas, e sempre diz que é coisa de mulherzinha. Qualquer homem de verdade sabe viver seus lutos, sabe o que prefere negligenciar. Afinal, viver é escolher o que esquecer, diz o poeta Claufe Rodrigues. Por mais que sorria nos bares, invente histórias, diga que tenha enterrado ilusões e cante mulheres dizendo que tenho cicatrizes que me endureceram, sei que uma boa música de amor – e nunca disse que precisava ter dor de corno ou coisa parecida – sempre bate fundo até nos poços mais vazios.

Vez por outra esbarro em versos novos que muitas vezes nem chegam a tocar nas rádios como Hang, do Matchbox 20. Sou meio que um pára-raio desse tipo de canção que, por mais velha que seja (como O Meu Amor, de Chico Buarque), ainda consegue me trazer um gole cortante, assim quando sou pego – sozinho, distraído – desprevenido em casa no escuro com um uísque ou numa estrada da vida de madrugada. Eu, pelo menos, sou assim, culpa de um pai, que me punha para dormir ouvindo Charles Aznavour quando eu era moleque, sei lá.

Toda grande música de amor é uma porcaria. Não pela letra, ou pelos detalhes sórdidos que ela quase sempre traz. Toda grande canção de amor é uma porcaria, porque nos lembra que fomos muito melhores do que nos tornamos e isso não é nem sombra do que queríamos então ser.

3 comentários:

Maria disse...

Eu não tinha lido este ainda. Posso deixar o comentário pra lá e dizer uma coisa?

"Dance in the old fashioned way
Won't you stay in my arms
Just melt against my skin
And let me feel your heart,
Don't let the music win
By dancing far apart
Come close where you belong
Let's hear our secret song

Dance in the old fashioned way
Won't you stay in my arms
And we'll discover heights
We never knew before,
If we just close our eyes
And dance around the floor"

Adoro o sotaque francês neste inglês dele, eu ouvia muito isso muito, muito pequena... eu tenho pena das crianças de hoje em dia. Isso vai virar um post.

E o Cake bem podia fazer uma versão modernosa desta música, não é?

Beijos sem economia.

PS: nunca li Bukowsky.

Maria disse...

E essa coisa que fomos muito melhores do que nos tornamos, eu desconcordo bastante.

Unknown disse...

Eu acho que é isso aqui:

"Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito. Exijo respeito. Não sou mais um sonhador.
Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor... E dou risada do grande amor. Mentira."