domingo, agosto 01, 2010

Sola no peito

Por André Debevc


Às vezes eu acho que ela tem razão. Temos mesmo de acabar. Jogar tudo fora. Fechar o que sobrou desse sonho, encerrar esta conta amorosa e ver o que sobrou de nós pra continuar. O resto – que sempre é mais do que éramos quando começamos, então me pergunto por que chamar de resto e não somatório? – será visto, cedo ou tarde, pelas noites cariocas, só se esbarrando mesmo por desgraça ou para a diversão do destino. Somos de cenários e públicos diferentes. Tão diferentes que chego a me perguntar por que idiotice achamos que somos iguais, que funcionamos bem juntos. A ironia assim como o diabo tem dessas coisas.

Acabaremos para lá na frente voltarmos e casar, diz ela do alto de sua ingenuidade. Desconhece os truques da vida, penso tentando encobrir um sorriso nati-morto no rosto. Eu já ouvi essa conversa antes, menina. Falaram que eu teria que acabar, e depois vagar por aí. Me prometeram muitas amantes, cicatrizes e histórias. Mentira. Depois que o destino vira a esquina ele não olha mais para trás. É cada um pro seu lado. Um “adeus, te odeio filhadaputa” no rosto e um “volta, te amo” no peito. As bocas, mudas engolem seco.

Depois, só a triste análise do que foi e do que poderia ter sido. Do filho que se deixou morrer por egoísmo ou apenas tristeza. Uma lista infindáveis de “se”. Amigos carregando o caixão com o corpo apagado de quem um dia amou e jurou ficar junto. Um luto amoroso nem sempre aparente. Vai aquela vida, o status, os planos.

E lá atrás, uma música triste que você começou a gostar quando ainda tavam juntos. Lembrança cretina do quanto você se deu. Tragédia que começa sem ainda nenhuma decisão tomada. Os dias seguem como uma procissão de tanques. Seu amor é que foi ficando para trás embaixo do mais reles coturno de sentinela.

Um comentário:

Maria disse...

começando a entender a identificação com meu texto...

;)