quarta-feira, abril 12, 2006

Longe dos seus espasmos

Confesso que acho engraçado, talvez curioso pra não ser canalha, que a esta mesma hora, mulheres estejam sofrendo por mim enquanto volto pra casa mais uma noite com este vazio enorme, pensando em você. Mulheres que amei momentaneamente pra não ser sarcástico, mulheres a quem me entreguei com uma pretensa fé, determinação e aquela dose a mais de tesão, mas que nem de perto cheguei a gostar. Sim, por instantes talvez, na inconsciência de um gozo raso. Talvez ali, de olhos fechados eu tenha relaxado e vivido o momento. Frações de segundo, estragos eternos onde não havia nenhum sinal de você e uma imensa vontade de não precisar nunca mais abrir os olhos pra não ver que nem era seu corpo, nem sua alma de pouca idade ou empolgação que estava ali. Amei sim, quer dizer, vão falar que amei com vontade, talvez uma vontade instantânea, regada a malabarismos e minutos a mais de uma vingança, tola como todas as outras, naquela vontade filha-da-puta de te esquecer pra sempre, que toda vez morria na hora em que caía a roupa ou lhes beijava a nuca. Não, não era você, sua cretina. Nem suas pintas, nem seus espasmos, nem seus ais. Estavam longe de ser seus pés tortos, peitos menores do que parecem ou suas estrias verticais, mas mesmo assim eu procurava amá-las. Talvez, confesso, com mais dedicação e energia que dava a você – que jurava nunca ir embora – talvez com mais improvisos e tempestades do que vivia com você, quase sempre com hora marcada. Mas nunca com o amor e entrega que vivia ali, nas suas coxas, minha casa, meu refúgio do mundo, onde eu testava seu amor, vivia sua vontade e bebia de suas pernas. E você sabe que eu era feliz – e quem saiba até admita que você também era feliz – quando eu te coçava as pernas ou tinha os peitos esfregados na minha cara em plena cozinha. Imagino agora, nesse caminho de casa, quantas calças jeans estarão jogadas no chão do seu quarto ou quantas camisas e tops estão neste momento descaídos de lado na poltrona que fica ali perto da varanda. Será que o cone roubado já me esqueceu? Será que a marca cor-de-rosa do adereço roubado em minha companhia já deixou seu chão? Será que morri mesmo de vez pra você? Não sei. Não sei. Não sei. Sei que falo bobagens, uso mil máscaras e preservo minhas novas cicatrizes nas esquinas das minhas noites. E olha que você nem viu o que sobrou da minha canela depois do acidente. Olha que você nem quis saber dos remédios que precisei tomar pra dormir depois que você se foi. Eu nunca mais soube de você. A não ser por rumores, fofocas ou outras dores. Eu durmo, acordo e vivo ainda nessa ladainha de lembrar de você. Você que já fazia bem menos questão de mim entre suas pernas do que as moças que agora tentam dormir pensando em mim. Estúpido eu, né? Aqui nem pensando nelas. Depois de malabarismos, noites, improvisos e sorrisos bobos que nunca nem tive com você. Ou mais estúpido ainda eu, que quis entregar a elas um amor que bateu aí no seu peito, e sem ter pra onde ir, voltou pra me soterrar. Querer te amar pra sempre foi um dos meus maiores erros...(e sim, eu sei que você odeia que eu termine uma frase com reticências). Mas difícil mesmo é nem ter muito o que mentir e contar para estas mulheres. Paciência. Que elas façam como eu: que liguem o foda-se e tentem esquecer de qualquer coisa que já lhes trouxe carinho ou esperança.

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