quarta-feira, abril 12, 2006

A Mulher de Vinte e Blau

Por André Debevc

Mesmo segura de quem é, ela é uma daquelas mulheres capazes de ainda ruborizar quando dá de cara com um elogio sincero. Bem vestida e sucedida, anda leve e fita furtivamente com o canto dos olhos quem sabe que a olha. Não sai de casa sem sua leve timidez, quase traço de personalidade desenhado, só pra dar mais charme à sua elegante discrição. Periga ter pelo menos mais de uma grande história de amor guardada no passado – já namorou de engravatado a largadinho - e não se deixa levar apenas pelo que brilha, é novo ou colorido. A mulher de 20 e blau não precisa mais disso. Deslumbramento pra ela já saiu de moda.

No seu andar doce quase distraído, já passou da fase de precisar se achar linda. Passou até daquele tempo afobado em que toda menina precisa que o universo todo a achasse linda. Hoje, sabe que é. Sabe que é muito mais que isso e só dá seus segundos a quem sabe olhar e reconhecer seus detalhes. Faz tempo que aprendeu a cultivar suas próprias opiniões e gostos. Chorou suas perdas, ajudou a escrever suas lendas e salpicar cada uma de suas pequenas sardas. Sabe que pinta nasceu depois de que verão e quantos sorrisos foram necessários para sacramentar aquele início de ruga. Ela não esquece que tem horas na vida que só resta mesmo é engolir seco, e que romantismo já foi menos escasso no seu coração. Mulher de 20 e blau é mais pé no chão. É mulher que reclama do corpo só para não fugir da regra, mas que no fundo não o trocaria por nada porque sabe ali seus anos de cumplicidade e alegria.

Essa mulher é a que se arrepia inteira com o toque certo, com apenas um ou dois jeitos muito certinhos de ser segurada. Conhecedora de seus limites e segredos, sabe dirigir sutilmente pelo seu corpo, cheiros e interjeições quem escolhe para saboreá-la. Prazer, aliás, agora restrito apenas a quem conquista muito mais que seus sorrisos e beijos numa noite. Mais racional que antes, diz para as amigas que já nem espera tanto ainda do amor, mas certamente acredita nele. A mulher de vinte e blau não fica mais esperando pelo príncipe, mas se cuida como princesa porque sabe que merece ser uma. Direta e assertiva, tem uma velha famosa foto em preto-e-branco como sua favorita e cantarola uma música com mais de 10 anos de idade quando se distrai.

A mulher de vinte e blau pode ter vinte e tantos ou trinta e poucos - pouco importam os anos de idade. É uma mulher que olha no espelho com mais consciência e leveza. Ainda não cansou de praguejar contra as leis do tempo e da gravidade, mas já consegue até achar bonitinho algum detalhe na imperfeição de seu corpo que os homens acham lindo. Ela sabe de seu corpo. Sabe vivê-lo, estranhá-lo e fazê-lo gozar. A moça de vinte e blau é tão assim, que cativa até a segurança quando passa. É nela que começa aquela história, real, de que por trás de todo grande homem, existe uma grande mulher. É ela inclusive que faz o homem ser grande. Sua serenidade, tesão e cumplicidade transformam qualquer garoto, por mais eternos moleques que sejamos.

Nenhum homem tem uma mulher de vinte e blau. Ela é que tem a gente. Com mais sapatos e menos biquínis que anos antes, com mais filmes favoritos fora do circuito e menos amigos em portas de boate. A mulher de vinte e blau desceu do palco e foi para o mundo. Aprendeu a fazer melhor as suas escolhas e mesmo atolada de responsabilidades ainda esconde em algum lugar um riso ou olhar secreto de menina. Mesmo que seja só pra ela mesma, olhando orgulhosa e cínica para a própria bunda numa calcinha velha quando passa em frente ao espelho na manhã de sol de um domingo.

A mulher de vinte e blau, com seus cds, livros, neuras, histórias e filtros solares não é uma conquista a ser feita. A mulher de vinte e blau é uma mulher a ser merecida. E, com sorte e algum talento, mantida.

Um comentário:

Anne disse...

Que saudade de tuas análises táticas da alma feminina...hehehehe...sempre tua fã...

Donna M.(do teeeeeeeempo do Via Macho)