quarta-feira, abril 12, 2006

Paixão de mulherzinha

Por André Debevc

Foi lendo uma crônica de uma amiga minha semana passada que confirmei o que por um tempo já vinha suspeitando: quando o assunto é relacionamento, sou quase uma mulherzinha. Pelo menos na visão dela, que diz basicamente, que quem gosta de amor é homem, que mulher gosta mesmo é de paixão. Até acho que conseguiria, algum dia, dar um beijinho carinhoso na mulher, colocar o pijamão e ligar a TV com uma felicidade sincera, como os homens da crônica da Aline. Só que, me identifiquei muito mais com suas mulheres, que precisam de frio na barriga, de adrenalina e impulso.

Nunca fui muito de calmaria, acho insosso. Medíocre, sinônimo de mediano, pra mim é ruim. Gosto da sedução, que seja eterna. Da adrenalina. De ser pego pelo colarinho e agarrado por cima da mesa do bar com ela me pedindo para que eu leve pra cama ou coisa parecida imediatamente. Quero a paixão na sua saudável inconstância, que alimenta, instiga, atiça. Nela que me olha de um jeito que só ela sabe olhar e me derrete do outro lado de uma sala lotada. Nela que faz pequenas surpresas, deixa bilhetes, que resolve comemorar com maravilhoso sexo matinal só porque é terça-feira.

Nunca consegui me apaixonar, nem muito nem pouco, por uma mulher que na cama não fosse lá grandes coisas – ou melhor, pra não agregar valor ou avaliações subjetivas de desempenho ao assunto - que não tivesse química e pólvora comigo. Não que eu seja o supra sumo do sexo, mas é o tipo da coisa que eu não consigo viver com se for mais ou menos ou apenas legal. Tá bom, até concordo que já fiz mais força para que cada transa fosse inesquecível, mas se for parar pra pensar, as minhas transas inesquecíveis são aquelas onde a paixão estava ali, mesmo que fosse pra ir embora um ou dois dias depois. Tinham ao menos momentos de paixão, de urgência, como na última vez memorável, num banheiro depois do casamento do meu primo.

Vivo para estar apaixonado, embora tenha esquecido o que é isso. Tive relacionamentos legais com pessoas fantásticas. Namoros e casos que me tornaram um homem melhor, mas paixão mesmo, de praticamente abanar o rabo, faz tempo que não sinto.

Fato é, que a paixão está em extinção. Cada vez menos se vê casais apaixonados sentadinhos num banco na orla ou se beijando e atrapalhando o fluxo dos passantes num shopping. Vai ver tem algo com a cobrança. Com a nova mulher. Com o mundo que espera que “homens maduros” sejam sinceramente felizes num pijamão em frente à TV depois dum beijinho carinhoso, quase fraterno na mulher. Exigem que deixemos de ser moleques. Talvez porque a paixão seja coisa de adolescente, e não só de mulher. E pode ser que o amor seja mesmo uma conquista da maturidade. Eu não sei (acho que não cheguei lá ainda). Só sei que em algum lugar deve existir uma mulher por quem eu vou saber me apaixonar todos os dias, tendo o peito pulsando forte feito adolescente. Até porque já aconteceu uma vez, numa galáxia muito muito distante, há tanto tempo atrás que até virou lenda.

E quando isso acontecer de novo, com toda minha afobação, vou dizer pra quem quiser ouvir que isso sim, é amor. Até porque só tem uma coisa com a qual posso me contentar de ter assim, ali ao meu alcance todos os dias da minha vida: a paixão. Porque se pra gostar de paixão é preciso ser mulher, quero pelo menos ser a mulher mais feliz do mundo.

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