quinta-feira, maio 04, 2006

O Último Beijo, abre os olhos.

Por André Debevc

Depois de ser a única criatura no mundo que ainda queria mas não tinha visto o filme italiano “O Último Beijo”, eu, cidadão carioca, abri mão da praia e fui – junto com uma enorme população de idosas – assistir a sessão de 13:40 em pleno domingo de sol e relativo calor no Rio.

Adorei o filme, mas me senti acertado em cheio – feito o coiote nos desenhos, acertado pela bigorna. Qualquer homem teria se identificado com cada um daqueles sujeitos quase trintões e inconsequentes. Vi a imaturidade deles, e como as mulheres encaram a idade que têm com muito mais responsabilidade e pés no chão do que nós. Como somos meninos! Sempre tentando fugir, sempre querendo a emoção na veia, sempre chateados com a normalidade, com a rotina inevitável e simples.

Carlo - personagem principal acordou a tempo, mesmo tendo chegado ao ponto de trair a mãe da sua futura filha. Caiu de quarto pela irresistível ninfeta. Homem nenhum conseguiria ficar impassível frente aquela loira eternamente sem sutiã. Carlo, sucumbiu. E depois desistiu. Correu de volta para seu amor, optou por quem conhecia sem maquiagem, de TPM, já com os efeitos do tempo e gravidade. Sua Giulia o deu uma nova chance. A omissão da verdade inteira colaborou…Giulia perguntou o que tinha acontecido antes dele sair de casa, e não perguntou o que aconteceu depois. Todos os homens adorariam ter a briga para usar de alibi, de motivo. Carlo a teve, teve uma noite de “solteiro” para viver, expulso de casa temporariamente para sempre. Se tem uma lição a aprender até estes ponto no filme, é (do distorcido ponto de vista masculino) que se você vai mentir, envolva o menor número de pessoas nisso.

Todos os homens do mundo estão no filme...do casado que não aguenta mais o choro do filho e a esposa que virou só mãe, do sujeito apaixonado pela ex que não quer seguir os passos do pai, do mulherengo que dorme com todas para não estar com nenhuma, e do futuro pai que entra em pânico e cai nos peitos da ninfa loira por medo de estar entrando em algo para sempre, com a mesma mulher, boca, corpo, para sempre...

Talvez eu já tenha sido um pouco de cada um deles em algum momento. Já dormi com uma mulher para esquecer outra. Já entrei em pânico e acabei relações por medo de sofrer, por medo de ficar pior. Já quis me alistar na Legião Estrangeira para esquecer uma namorada que amei muito. E também me revoltei como um menino por não ser mais a única distração e fonte de alegria de um amor. Já fui todos eles, de um jeito ou de outro. Vai ver que é o processo de qualquer homem, vai ver só assim a gente cresce. Perdendo, errando. Não podendo voltar atrás e consertar o erro com quem erramos.

Uma frase ou duas, ditas no filme, ficaram com mais força na minha mente. Não sei exatamente como transcrevê-las, mas era algo meio assim, de que “A normalidade é que era o grande desafio” e que o há de errado com algo simples, comum, rotineiro? Juro que assim, de cabeça, não sei. Acho que nada, mas sei na prática que a rotina é complicada. Se acostumar, saber tudo de uma pessoa é maravilhoso. Saber como ela vai reagir a tal pergunta. Saber que cara ela vai fazer em certa situação…essas pequenas conquistas são maravilhosas. Não sou um homem que tem medo de intimidade e apelidos. Mas, como os personagens do filme, preciso lembrar que não sou mais um adolescente, e que não devo esperar nem emoções nem paixões adolescentes. Mereço pensar com mais maturidade.

O cinema era longe de casa, e eu não consegui voltar pra casa. Precisava pensar. Mastigar o filme, esmiuçar o que ele quis dizer pra mim. Não disse uma só palavra por horas. Pensei em ligar para minha última namorada, que tinha me indicado o filme há séculos, mas hesitei. E você sabe, a pior coisa que um homem pode fazer é hesitar. Fiquei quieto, vendo como me identifico, como existe muito de mim em cada um daqueles personagens. - ou muito deles em mim. Seja lá o que for mais definitivo.

É um momento, uma idade muito difícil. Alguns de nossos amigos casaram, outros estão na gandaia. Uns tiveram filhos, outros se separaram, e alguns nem trabalham ainda. Chegar aos trinta é quase que um meio de algum caminho. Será que eu me tornei o superheroi que pensei que fosse ser? Será que não estou nem perto do que sonhava? Será que eu estou mesmo pronto para a vida?

Todos nós, precisamos nos apropriar dessa consciência de que não somos mais adolescentes, de que precisamos crescer e aprender a lidar com essa normalidade. De que ter um amor sem reações extremas - sem febres, quebradeiras, brigas homéricas, viagens inesperadas, sexo no chão da cozinha e em banheiros de avião, pode ser até bom. Só que ninguém consegue viver bem numa montanha russa. Nem toda calcinha dela vai ser sedutora. Nem todo dia você vai sair do trabalho louco para beijá-la.

Quem sabe lembrando disso, um dia sossegamos, sem a ansiedade de que sempre seja melhor. Todos temos beijos que nunca esquecemos. Principalmente quando você o vê de olhos muito bem abertos.

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