quarta-feira, abril 12, 2006

Mais Nada

Por André Debevc

Tem dias que eu acho que essa vida já deu.
Olhando na carne os amores que tive,
sentindo ainda no peito as mulheres que nunca esqueci,
ou abraçando na memória os amigos e o que vivi,
tem dias que eu acho que essa minha breve vida já deu.

Fosse eu medieval, teria morrido bem mais novo.
Espada cravada no peito,
ingenuidade e ignorância de quem se vai
defendendo até o fim um amor prometido a um outro qualquer.

Mais uns séculos,
e lá estaria eu, duelando.
Frente à frente com meu rival de armas mal escolhidas,
defendendo a honra e o amor idealizado em poesia.
Feneceria eu ainda jovem,
o peito dilacerado por uma bala
e não por uma mulher que escolheu outro caminho.

Já em outra época ainda mais recente,
morreria também jovem, combatente.
Foto em sépia rastejando trincheiras,
cartas da amada perto do coração,
saudade virando lápide em terras estrangeiras.
Um amor que viveria só para contar história.

Acontece que vivo agora nessa época inglória...
Se morre de tiro, desastre, idade e solidão,
se vive bem mais do que foi feito para agüentar um coração.
E quando o peito ecoa doído
acordando no conforto desassistido da madrugada,
penso sozinho no lugar onde dormia a minha amada:
tem dias que acho que essa vida já deu,
tem horas que eu não espero mais nada.

Um comentário:

Maria disse...

eu realmente preciso arrumar um tempo pra dar uma viajada em todos os (en)cantos deste blog.